“Acessibilidade, inclusão e informação jornalística durante a pandemia” foi o tema da quarta edição do GJOL Cast. Conversas Digitais, realizado no último dia 24. Com tradução simultânea para Libras, o debate teve a participação de Cláudia Werneck, jornalista e idealizadora da Escola de Gente; Ednilson Sacramento, primeiro jornalista cego formado pela Facom/UFBA e especialista no tema; e Letícia Damasceno, professora auxiliar de Libras na UFBA. A mediação foi da doutoranda do PósCom/UFBA e pesquisadora do GJOL, Luciellen Lima.

Depoimentos gravados com questões e comentários de profissionais de meios jornalísticos também foram exibidos ao longo da transmissão. Participaram os jornalistas Luiz Alexandre Ventura, do Estadão; Jairo Marques, da Folha de S. Paulo e Daniel Toco, da RecordTv Rio.

Cláudia Werneck chamou atenção para um fato preocupante: a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) faz pronunciamentos diários sem qualquer acessibilidade. “Estamos vivendo uma escalada de exclusão, uma tragédia histórica, e os meios de comunicação acabam corroborando com isso”, afirmou.

Embora haja 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil (dados do IBGE), poucos são os veículos jornalísticos preparados para se comunicar com esse público. Letícia Damasceno destacou o trabalho da TV Cultura, que tem um Núcleo de Acessibilidade com 51 pessoas e disponibiliza 20 horas semanais de libras, 28h de audiodescrição e 24h de legenda closed caption. “Eles ainda inovaram incluindo intérpretes surdos”, disse.

Ednilson Sacramento explicou que, por mais boa vontade que tenham, as redações têm falta de tempo e equipes reduzidas. “Hoje as redações se preocupam com a população LGBT, com os negros, mas pouco procuram saber sobre as especificidades da pessoa com deficiência”, afirmou. Sacramento ainda pediu cuidado com as conjunções adversativas: “Não diga numa matéria ‘ele é cego, mas toca violão’. Por que uma pessoa cega não pode também tocar violão? É preciso prestar atenção nisso”.

De acordo com pesquisa do Big Data Corp, Movimento Web para Todos e CeWeb.br (abril/2020), apenas 3,03% dos sites jornalísticos são acessíveis. Cláudia Werneck defendeu que devemos ir além da discussão sobre o direito de acesso à informação. “Tem também o direito de expressão, de se comunicar. As pessoas com deficiência devem poder fazer perguntas com acessibilidade sobre Covid-19, dar suas contribuições como leitores e cidadãos. É como se eles não tivessem nada para falar, nada para contribuir. Quantos séculos vamos levar para mudar isso? É preciso que essa luta vire uma atitude política e pedagógica”, concluiu.

O GJOL Cast. Conversas Digitais acontece em parceria com o projeto “Em casa com a Facom”. As edições anteriores podem ser conferidas no canal do Youtube do GJOL.

Assista abaixo à transmissão completa: