07 de janeiro de 2020. Essa foi a data em que as autoridades chinesas confirmaram a existência de um novo coronavírus, o SARS-CoV-2, responsável por causar a COVID-19. Poucos meses depois, essa doença se disseminaria de forma rápida por diversas regiões do mundo, levando a Organização Mundial da Saúde (OMS) a caracterizá-la como uma pandemia. A COVID-19 provocou uma grave crise sanitária, além de econômica e social, que desafia cientistas, profissionais da saúde, governantes e afeta a toda a população, seja pela rapidez do contágio, pelos receios e apreensões com a doença, seja pelas efeitos do distanciamento social. Todos estão enfrentado sucessivos desafios, inclusive o jornalismo, que tem sido impelido a lidar com dificuldades advindas da atual crise.

Isso porque, em um contexto de pandemia, profissionais de comunicação são os responsáveis por informar à sociedade de forma clara e transparente. Principalmente, traduzindo inúmeros dados fornecidos pelas universidades, instituições governamentais e órgãos de saúde em informações de fácil compreensão para que a população compreenda como o novo coronavírus se propaga e, assim, tome ações em prol da redução da proliferação da COVID-19.

Em um panorama em que uma notícia bem elaborada e elucidativa pode salvar milhares de vidas, o Jornalismo Guiado por Dados (JGD) ganha destaque na cobertura jornalística sobre a pandemia, uma vez que grande parte das informações sobre o novo coronavírus está imersa em bases de dados complexas e, portanto, de difícil entendimento por parte do público em geral.

Para os pesquisadores Carmen Costa-Sánchez e Xosé López-García (2020), tal prática jornalística, no contexto da pandemia, “tem permitido que outras perspectivas sejam contadas, mais documentadas e com relatos com mais profundidade, a partir da gestão dos dados e de estatísticas de prospecção” (p. 8).

O Jornalismo Guiado por Dados, segundo a definição de Suzana Barbosa e Vitor Torres (2013), é “aquele produzido com dados, os quais podem ser gerados e disponibilizados por uma diversidade de fontes públicas e privadas” (p.153). Já o pesquisador da UFRGS, Marcelo Träsel (2017), define o JGD como um conjunto de práticas profissionais que utilizam os dados como principal fonte de informação para a produção de notícias.

Infográficos como apoio informacional

Para além de definições, Costa-Sánchez e López-García (2020) afirmam que, na atual crise provocada pela COVID-19, os infográficos têm ganhado destaque, tanto nos meios digitais quanto nos meios tradicionais, ao servir como apoio à informação. Tais recursos, segundo os pesquisadores, podem ser produzidos em forma de gráficos de evoluções, linhas do tempo, gráficos de barras e colunas, bem como em forma de mapas interativos de visualização.

Nesse sentido, vale relacionar alguns bons exemplos de meios jornalísticos que estão utilizando infografias, gráficos e visualização de dados para construir suas narrativas sobre a pandemia da COVID – 19. Vejamos:

O primeiro exemplo é o caso do The New York Times. No dia 24 de maio, o meio estadunidense publicou em sua home a reportagem “An Incalculable Loss“, por meio da qual discorreu acerca das quase 100.000 mortes, até então, ocorridas nos Estados Unidos em virtude do novo coronavírus.

Por meio de visualização interativa, o NYT descreveu cada pessoa que perdeu sua vida para a COVID-19 naquele país, no período de 5 de março a 23 de maio de 2020.

Percebe-se da imagem acima que a peça jornalística do The New York Times não apenas se preocupou em informar o número de mortes nos EUA causadas pela COVID-19, mas também em humanizar tais números ao descrever cada uma das vidas perdidas. A humanização tem extrema importância no contexto de uma grave crise de saúde pública em que o mundo todo sofre neste momento da história.

A reportagem “Why outbreaks like coronavirus spread exponentially, and how to “flatten the curve”, produzida pelo jornal americano The Washington Post, é outro exemplo que merece ser mencionado. Nela, o jornalista Harry Stevens explica, por meio de texto e utilização de gráficos e visualização de dados interativa, como o novo coronavírus se propaga, bem como sobre a importância do isolamento social, simulando, para tanto, cenários em que há o distanciamento social e outros em que não há esse distanciamento.


Figura 1: Visualização interativa que simula o cenário sem o distanciamento social. As bolas vermelhas representam pessoas infectadas e as azuis pessoas não infectadas pelo novo coronavírus.

Outro exemplo pode ser citado. O Financial Times publicou em seu site a matéria “Coronavirus tracked: the latest figures as countries fight to contain the pandemic” . Nela, se emprega texto, infográficos e gráficos para fazer uma análise da escala de surtos e o número de mortes em todo o mundo.


Figura 2: Infográfico utilizado para mostrar o número de casos em diversos países do mundo. Ressalte-se que tal número é atualizado diariamente pelo Financial Times.

No cenário nacional, tem-se como exemplo a peça jornalística “A evolução dos casos de covid -19 nos municípios brasileiros”, produzida pelo Nexo Jornal.

Nesta peça, composta por visualização interativa e gráficos, o Nexo mostra como o novo coronavírus se disseminou nos municípios brasileiros no período de 25 de fevereiro de 2020 a 30 de abril de 2020, data em que a referida peça foi veiculada.

Por último, vale citar o caso do Estadão. Com o início da pandemia, este meio passou a disponibilizar em seu site uma ferramenta para o leitor acompanhar os principais números da COVID-19 por meio de gráficos e de infográficos.

Abaixo, tem-se um dos infográficos produzidos pela equipe do Estadão acerca da pandemia. Por meio dele, o leitor consegue se informar acerca do número de casos confirmados da doença em cada um dos países do mundo. Basta apenas passar o cursor do mouse em cima do nome do país sobre o qual se deseja obter tais informações. Ressalte-se que os números são atualizados diariamente.


Figura 3: Ao passar o cursor do mouse na área referente ao Brasil, por exemplo, o leitor fica sabendo que no dia 28 de maio de 2020 o país tinha 411.821 casos confirmados de COVID – 19.

A partir dos exemplos, verifica-se que o Jornalismo Guiado por Dados (JGD) torna-se uma prática essencial, quando se está em meio a narrativas permeadas por milhares de dados, muitos deles complexos e, portanto, de difícil compreensão para a sociedade. Quando se está também em meio a narrativas sobre uma crise sanitária, econômica e social em que uma notícia bem elaborada, aprofundada e de fácil compreensão ao público em geral pode salvar vidas.