Em uma postagem de 17 de agosto, falamos do lançamento de um relatório produzido pelo Joan Shorenstein Center on the Press, Politics and Public Policy, da Harvard University, e comentamos achar estranho que os analistas tenham concluído que os jornais mais ameaçados pelo avanço da internet fossem os “locais”.
Sugerimos, na ocasião, que seria necessário discutir o que se entende por “local”, no mundo atual. Afinal, não seriam justamente os jornais locais os únicos que podem produzir conteúdos “únicos”, no sentido de que – por mais que se procure – pouco ou nada será encontrado na Internet que os substitua? Não seriam portanto esses “os menos ameaçados” pelo crescimento do volume de informação na Web?
Notícias de São José do Panelinha,Ribeira do Pombal ou Cacequi em jornais nacionais ou circulando pela Net? Só se ocorrerem grandes tragédias por lá.
O jornalista e consultor de mídia Steve Yelvington parte do mesmo ponto e faz um comentário ao relatório do Joan Shorenstein Center com respeito aos jornais locais norte-americanos. Historia rapidamente o percurso do jornalismo nos Estados Unidos, onde dos mais de 1.400 jornais, somente uns poucos tem circulação nacional e assinala que o problemático no relatório são as visões de “local” e “regional” entendidos, de maneira restrita, como uma”condição geográfica”.
É claro que o fundamental é levar-se em conta não onde o jornal é produzido, mas sim o tipo de conteúdo que veicula e, portanto, seu poder de despertar interesse nas comunidades locais ou regionais de sua área de abrangência.
O problema é que muitos dos jornais ditos locais acabam por tentar reproduzir (com desvantagem, é claro) os conteúdos (nacionais, internacionais etc) veiculados pelos jornais “nacionais” e portanto pela Internet.
Resumindo: os jornais “locais” realmente ameaçados pela Internet são os que insistem na missão impossível de concorrer com conteúdos amplamente disponíveis na Internet.
E resta, é claro, a pergunta: mas isso não é obvio? Por que, em vista de algo tão evidente , os jornais “locais” não se tornam realmente locais (ou hiperlocais) e concentram-se nos conteúdos únicos que podem e devem produzir?
A razão parece clara: isso custa dinheiro. Para produzir material local de qualidade é preciso contar-se com uma equipe de jornalistas, fotógrafos, editores, voltados para essa tarefa. Para “copiar e colar” notícias de agências ou material pescado na Internet bastam uns poucos estagiários, ganhando salário-mínimo, se tanto…
marcos palacios