As diversas formas de comemorar e celebrar acontecimentos permitem que eles não se apaguem da memória de uma sociedade. Desta forma, recordá-los seria uma maneira de (re)vivê-los. Porém, a memória é sempre seletiva e aquele que traz determinado fato passado ao presente não o faz de modo inocente. Mesmo que o interesse não esteja tão explícito, suas ideologias e visões de mundo estão imbrincadas naquelas lembranças – e nos esquecimentos que engendra, conscientemente ou não. Afinal, o que se decidiu recordar e sob qual perspectiva?

No dia de hoje, num domingo de eleição, após todas as ações/campanhas dos grandes jornais que acompanho com frequência, não é por acaso que resolvo (re)viver a polêmica edição do Jornal Nacional na ocasião do debate entre os presidenciáveis Lula e Collor em 1989 – ver texto no Observatório da Imprensa. Anos depois, o próprio José Bonifácio ‘Boni’, ex-vice presidente e editor geral da TV Globo, confessou em entrevista para o Dossiê da Globo News a edição tendenciosa em favor de Collor – algo que alguns não acreditavam que tivesse ocorrido de fato; pois é, nunca foi uma teoria da conspiração.

Toda memória é corrompida em alguma instância pelos interesses daqueles que buscam transmitir e estabilizar suas visões de mundo. Ela não é neutra. Ainda assim, esta postagem revela a minha perspectiva do dia hoje, não posso afirmar que é uma visão geral dos integrantes do GJOL. Quem sabe, daqui a alguns anos ou eleições, não relembremos da cobertura realizada pelos grandes jornais brasileiros da eleição presidencial de 2014, tendo como o ápice a capa da revista Veja, cuja publicação foi antecipada de hoje (domingo) para a última sexta. A revista afirmou que a presidenta candidata à releição pelo PT Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula sabiam dos desvios da Petrobrás. No entanto, o advogado de Aberto Yousseff – acusado que teria feito a denúncia contra os petistas – negou que seu cliente disse isso a qualquer um. Além de uma (provável) entrevista com o Yousseff, não havia nenhuma prova para a revista sustentar a publicação, orquestradamente divulgada às vésperas da eleição.

No dia seguinte à edição, o TSE concedeu direito de resposta ao PT, proibindo a Veja de disseminar seu conteúdo pelas diversas mídias – embora isso não impeça seus apoiadores de fazer o mesmo. O dito não se apaga e uma mentira pode se tornar verdade, ou ao menos colocar uma dúvida na reta final da eleição – provável intenção do veículo. Na edição do Jornal Nacional de ontem, a revista se tornou um mártir da intolerância (foi “atacada” – verbo que usou o principal telejornal da TV Globo), pois manifestantes picharam, jogaram lixo, queimaram a edição da Veja e protestaram em frente à sede da revista. No final, nada de muito grave acontecerá com o veículo, que dará direito de resposta ao PT, mas conseguiu espalhar mais um boato e saiu como mártir da “censura petista”, como alguns gostam de bradar.

capa da revista Veja