Caos e morte ameaçam nosso país. Além das milhares de mortes não evitadas pela má gestão federal durante a pandemia, descortina-se um futuro de regressão e barbárie, com o desmonte de políticas públicas e a destruição em curso do sistema educacional brasileiro. A que projeto de nação pode servir, afinal, uma política de terra arrasada dirigida à Educação, ora evidente na trágica combinação de asfixia orçamentária e ataques à autonomia universitária – política conduzida por dirigentes que depois serão lembrados sobretudo por suas manifestações de rejeição à ciência, de autoritarismo e, enfim, de pura ignorância?
A insensatez encontra seu projeto na destruição. Ela desmonta o legado de gestões anteriores, mas procura também destruir o ainda incompleto edifício humanista da Educação brasileira. A ordem parece ser, portanto, devastar um terreno cultivado com o suor e o sacrifício de gerações de cidadãos e cidadãs, cobrindo-o talvez com cimento, para que nele impere tão somente a servidão. Neste momento decisivo, desenham-se então duas linhas de força inconciliáveis e antagônicas: educação ou barbárie.
Conhecimento ou ignorância, democracia ou autoritarismo, solidariedade ou indiferença, são opostos que reverberam o mesmo dilema. Por um lado, temos um projeto de nação digna, civilizada e democrática, em função do qual impõe-se a defesa da vida e da cultura, que se traduz tanto em investimentos no Sistema Único de Saúde e no meio ambiente, quanto em escolas, universidades e agências de fomento à pesquisa – em suma, na proteção do conjunto de entes, profissionais e instituições essenciais para a promoção e ampliação de direitos e para a formação de um povo capaz de se orientar pelo conhecimento e de se medir por laços solidários.
Vemos, por outro lado, as garras da barbárie, que se fortalece onde quer que se disseminem a ignorância e a desproteção da vida. Taxar livros enquanto se estimula o acesso a armas é um sintoma a mais dessa barbárie que viceja nos múltiplos gestos de um governo que, a todo tempo, ao invés de favorecer o diálogo e a unidade de ações solidárias embasadas na ciência, estende ao espaço público o modelo da “guerra de todos contra todos” antes próprio das redes sociais. Servem, ademais, à barbárie a gestão irresponsável da saúde na pandemia e o ataque indiscriminado a políticas de Estado que visam ao bem comum – ataque que se mostra cruel na involução do orçamento dos sistemas de educação, saúde e cultura, com graves retrocessos naquelas políticas de Estado que, ao contrário, necessitam a proteção de metas claras de expansão continuada.
Um povo renuncia à sua identidade, se abandona seu futuro. Desse modo, além de exigir recomposição orçamentária e investimentos que garantam o funcionamento de funções estatais relativas a políticas públicas, à educação e à saúde, à proteção da vida, aos direitos básicos de nosso povo e ao meio ambiente, devemos resistir a todas as manifestações de retrocesso cultural, de violência e embrutecimento das relações sociais. Portanto, com máxima urgência e toda força, temos que mobilizar nossa nação para a escolha pela ciência, pela civilidade, pela democracia e, enfim, pela Educação, de sorte que a sombra da barbárie saia de nossas vidas, tornando-se apenas uma página infeliz de nossa história.
Educação, sim! Barbárie, não!
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