Um novo quadro do Fantástico, programa da Globo, estréia em 15 dias e tem Regina Casé no comando. Desta vez, a atriz e apresentadora traz ao programa dominical os estabelecimentos que oferecem conexão à internet em bairros da periferia das grandes cidades. Para isso, o site do programa abriu uma seção para que o público possa enviar vídeos caseiros com imagens de lugares que funcionam como lan hause.
No site lemos, “pode filmar com uma webcam, com o seu celular. Mas me mostra direitinho como é a lan house da sua periferia. Eu já vi lan house dentro de barbearia. Já vi até uma com estacionamento de burro na porta, lá no interior de Minas, com academia de ginástica, dentro de supermercado. Se sua lan house preferida for realmente surpreendente, quem sabe eu não vou aí!? E quem sabe seu vídeo não aparece para todo o Brasil aqui no Fantástico? Combinado?”
Fica uma pergunta: como podemos classificar esse tipo de iniciativa? Jornalismo participativo, movimento Pro-Am ou simplesmente repasse para o público do trabalho jornalístico de apuração e de produção do programa?
03/11/2008 at 01:49
Gente, depois de passar três meses mergulhado nos livros clássicos que discutem a teoria dos gêneros jornalísticos no Brasil, acredito que isso se aproxime do que costumamos chamar de enquete. A diferença é que ao invés de declarações, estamos utilizando material de outras formas. (mas isso é só uma conclusão rápida)
Um conhecido meu fez a monografia sobre meios jornalísticos que usam material editado pelo público como fonte. Vou ver se consigo e mando pra vocês.
04/11/2008 at 22:28
Jvk, se tiver esse monografia em mãos, me envia tbem.
Acho que isso aí é um pouco de tudo o que a Luciana falou, nesses tempos de fronteiras líquidas. Abrir a participação do público no pauta é interessante, já vi coisas assim nos EUA. Até porque, me parece, que a produção irá confirmar a pauta indo até o local se o vídeo enviado for realmente interessante. Ou seja: não mata a apuração, apenas dá início a ela. Não acha?
04/11/2008 at 23:45
Santaella diz em Cultura das Mídias que a mídia clássica convive, ao passo que na digital a mídia clássica sobrevive.
A Globo, a meu ver faz o seguinte neste caso:
1. Utiliza o fator adaptação cultural do cotidiano, a partir do olhar dos produtores culturais;
2. Pega isso e mistura com a possibilidade do gênero enquete satisfatoriamente oferecido por JVK;
3. Atribui a isso uma pitada de sensacionalismo e pitoresco, na medida em que busca locais bizarros;
4. Ao fazer isso, mexe bem o caldeirão dos gêneros, uma alquimia que a linguística já apontou teórica e pragmaticamente;
5. Mais: associa isso a um clima de participação que na verdade é mera contribuição. Afinal, como o pessoal da produção poderia obter tanta informação!?
6. E ao sugerir as visitas, estabelece o padrão e a audiência por antecipação.
7. Como tenho refletido, muito ainda se fará em nome da tal cidadania e da boa vontade.
Que tal se estas emissoras revertessem parte do lucro para melhorar os ambientes de inclusão social!? Apropriação meramente é prostituir o cotidiano.
Penso que a miséria ou as más condições em que algumas lans são instaladas servirão de mero fetiche para mais um programa!
É só, e o rio flui!!!
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