“O maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos foi o que ocorreu com a revista Veja. Gradativamente, o maior semanário brasileiro foi se transformando em um pasquim sem compromisso com o jornalismo, recorrendo a ataques desqualificadores contra quem atravessasse seu caminho, envolvendo-se em guerras comerciais e aceitando que suas páginas e sites abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico.
Para entender o que se passou com a revista nesse período, é necessário juntar um conjunto de peças”.
Quem diz isso é o jornalista Luis Nassif , que está publicando, em capítulos, uma grande reportagem sobre a história recente do semanário no Google Pages
Via NovasM,NMídias
marcos palacios
03/02/2008 at 16:51
Segue cópia de e-mail enviado a Luiz Nassif, a respeito da crônica ‘Os momentos de catarse e a mídia’ – por vocês reproduzida.
Caro Nassif, acabo de ler ‘Os momentos de catarse e a mídia’, de 30 de janeiro de 2008. Há mais de seis anos não leio a revista Veja e me foi bastante instrutivo saber da decadência da publicação. Concordo com sua explicação sobre as razões do anti-jornalismo – jornalismo e os negócios e uso de notas como ferramenta para disputas empresariais e jurídicas, inclusive.
Outros pontos me chamaram a atenção. Tenho estado distante dos holofotes há anos e, de um momento para outro, sou citada em seu blog – em texto reproduzido em tantos outros sites. Isso não faz bem à minha alma, à minha saúde, acho que a nada e a ninguém.
O primeiro ponto que me perturba: meu nome foi omitido. Como não compreendo a razão, e não tenho o que esconder, aqui vai: a editora de economia de Veja demitida em novembro de 2001 sob a acusação de ter relações impróprias com o lobista Alexandre Paes dos Santos fui eu, Eliana Giannella Simonetti, jornalista há quase 30 anos, com trabalhos investigativos, analíticos, econômicos, culturais, entre outros, elogiados e reproduzidos no Brasil e no exterior.
Você sabe, como eu, que quando um jornalista tem acesso a informações, deve checá-las, buscar fontes alternativas, sentir-se seguro antes de encaminhar proposta de reportagem. Daí meu segundo incômodo: a alusão a jornalistas que funcionam como carregadores de dossiês de lobistas. Nunca estive entre eles. Reportagens, como sabemos, nascem e se desenrolam das mais diversas maneiras. Muitos anos atrás, ouvi de um alto funcionário da Receita Federal um relato que me custou inúmeras entrevistas, um esforço enorme, e a denúncia não se comprovou. Passado pouco tempo, elaborei um trabalho inovador depois de observar meus filhos conversarem – e produzirem raciocínios diferentes dos meus. Sem lobista, a reportagem sobre o cérebro das crianças teve grande repercussão.
Ao longo de minha carreira, tive contato com inúmeros lobistas – alguns mais, outros menos confiáveis. Atendi lobistas que trabalham pela melhoria da educação pública. As notícias que publiquei não lhes trouxeram lucro financeiro – ao menos que eu saiba.
Movo dois processos judiciais contra a Editora Abril. Um deles, trabalhista, dá conta de que nos dez anos em que estive no quadro de jornalistas da revista Veja trabalhei em média 12 horas por dia – quando o contrato me pagava por sete horas de serviço. Isso para ficar apenas num item. Estou entre os poucos profissionais de imprensa que acionam a Editora Abril, quase onipotente no mercado brasileiro. A segunda ação é relativa aos danos morais que sofri. Pelo fato de a revista Veja ter publicado nota justificando minha demissão – que, diga-se, foi sem justa causa. O Sistema Judiciário é lento, mas os processos têm caminhado a meu favor. E espero que Veja continue em circulação quando for obrigada a publicar a retratação da nota que prejudicou minha vida e a de minha família.
Em tempo: não fui eu quem mais publicou denúncias de Alexandre Paes dos Santos. Nem foi ele meu principal informante nos dez anos em que trabalhei em Veja. Para realizar meu trabalho contei com o suporte de muitos detentores de informações bem documentadas. Talvez isso explique o fato de nunca uma reportagem assinada por mim ter sido questionada na Justiça.
Eliana Simonetti