Foto: Curtis Perry

Vamos parar com essa mania de chamar qualquer tipo de participação de leitor no jornalismo online de “formação de comunidade”?
Em síntese, é essa a posição de Robert Marcus, diretor da Chat Moderators, uma empresa de consultoria para comunidades online que declarou, em entrevista para o Journalism.co.uk , que permitir que usuários façam comentários em notícias e blogs não é fomentar “comunidade”:

“A palavra comunidade está sendo usada como uma espécie de rótulo onde cabe qualquer coisa, mas uma comunidade é feita por gente que se conhece, ainda que de maneira puramente virtual, que se envolve em variadas conversações. Comentar notícias é uma atividade limitada. Não constrói comunidade. Pode construir lealdade para com o site e interatividade, em algum grau, mas não consigo ver como isso construa comunidade, porque é uma atividade que só tem apelo para um número limitado de pessoas”, explica Marcus.

Para ele, o recurso dos ‘comentários em notícias’ é um mecanismo de “natureza vertical que restringe a interação entre usuários e o crescimento de uma comunidade. Não há oportunidade de discutir com outras pessoas e os comentários se tornam apenas uma lista de ‘o que voce acha?‘ com opiniões que não se interligam”.

E qual seria a solução? Para Marcus “em sentimento de comunidade entre usuários de um site só pode ser criado com a criação de espaços de comunidade, como fóruns, paralelos às áreas de comentários nas notícias ou postagens.”

Ele adverte, ademais para os perigos de ‘infiltrações’ nas comunidades, lembrando que “os sites de notícias devem precaver-se para que áreas de comentários não sejam dominadas por lobistas ou por gente que apenas deseja ‘aparecer‘, colocar seus nomes em evidência, um fenômeno que pode ocorrer por falta de ‘sentimentos de amizade’ (friendliness) e comunidade entre usuários e jornalistas que utilizam a área de interação”.

Trocando em miúdos, o elemento essencial para podermos falar em comunidade é algo que poderia ser definido como ‘sentimento de pertencimento’, algo que vai além de simplesmente deixar um comentário ao pé de uma reportagem ou postagem em blog. Nos idos de 1995, eu falava sobre isso, analisando o então emergente fenômeno das Comunidades Virtuais. Meu artigo está disponível, para quem quiser saber como era o mundo naqueles tempos pré-históricos. Talvez se naquele ano eu tivesse montado uma “empresa de consultoria para comunidades online” hoje eu fosse milionário…

marcos palacios