No jornalismo online, as duas perguntas colocadas no título desta postagem começam a se confundir. Um título só é bom se ajudar na recuperação do texto no futuro e for independente do contexto onde está inserido. Essa discussão, que me parece muito oportuna e rica, é suscitada a partir de uma postagem de Patrick Beeson em seu blog, com algumas considerações sobre as mudanças que a necessidade de otimizar material online para a recuperação por sites de busca (Search Engine Optimzaion/SEO) está causando na antiga arte de criar títulos jornalísticos.
No jornalismo impresso, frequentemente, o título sofre com as limitações do espaço específico em que deve ser ‘encaixado’ (“duas linhas de 20 toques”/ “uma linha de 32 toques”) em função da paginação.
No jornalismo online, as limitações estão sendo geradas pela necessidade de otimizar-se o título para sua posterior recuperação pelos sites de busca, especialmente a dupla Google/Yahoo.
O Professor Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra (Espanha), em um texto básico sobre redação ciberjornalística (Redacción Periodística en Internet, Eunsa, 2005), discutiu as funções e características dos títulos no ambiente das redes e discorreu sobre como utilizar bem este elemento chave do texto jornalístico. Salaverría aponta três funções do título nos meios tradicionais e agrega uma função para a situação on-line:
a)Função identificativa: o título deve individualizar um texto jornalístico frente a outros;
b)Função informativa: o título deve fazer uma síntese do conteúdo do texto jornalístico que encabeça;
c)Função apelativa: o título deve suscitar o interesse e, junto com os eventuais elementos gráficos que possam acompanhar o texto, cumprir uma função de primeira linkagem para o olho do leitor;
d)Função hipertextual: uma nova função introduzida pelas tecnologias online, pois o título serve também como elemento chave para a navegação nos cibermeios, através do link que permitirá o acesso ao bloco que contém a informação.
É evidente que, em termos de posterior recuperação do texto em situações de busca, devem ser evitados títulos que dependam do contexto visual em que ocorrem (fotos e legendas complementares, gráficos, matérias adjacentes etc), como muitas vezes acontece no jornalismo impresso. Por exemplo um título como: “E agora o que vai acontecer?”, ao lado de uma foto de uma criança subindo ao papeito de uma sacada no quadragésimo sétimo andar de um prédio, pode ser muito eficaz para chamar atenção e vender o jornal na banca, mas estará condenando o texto a uma recuperação difícil no online, pois o contexto onde ele estava inserido não pode ser recuperado na busca.
A função identificativa está se sobrepondo à informativa e apelativa, para atender às idiossincrasias de funcionamento dos motores de busca? A necessidade de “enfiar” palavras chaves nos títulos está matando a criatividade?
A necessidade de garantir que palavras chaves relevantes estejam presentes é tal que o Google já possui um Gerador de Palavras Chaves, para ajudar nessa tarefa, produzindo sinônimos e derivações, a partir de uma palavra-chave inicial.
É claro que existem outros elementos, além do título, que colaboram na criação níveis de recuperação (findability) de um texto jornalístico, como tags, datas etc. Mas o título certamente é um desses elementos e está sujeito às demandas e restrições tecnológicas dominantes.
Trata-se de um tema rico para exercícios de levantamento, comparações e discussões em sala de aula.
E para a reflexão dos profissionais.
Patrick Beeson promete dar continuidade à discussão em seu blog.
Cheguei à postagem de Beesson via TOJ.
marcos palacios