De acordo com um relatório produzido pelo Joan Shorenstein Center on the Press, Politics and Public Policy, da Harvard University, o número de usuários em sites de jornais online norte-americanos está estagnado e não cresceu nos últimos 12 meses.
O estudo intitulado “Creative Destruction” (Destruição Criativa) sugere que se forem retirados da contagem os dados relativos aos “três grandes” (New York Times, Washington Post e USAToday), as visitas de usuários únicos ao sites do restante dos 160 jornais pesquisados têm se mantido estáticas nos últimos 12 meses.
O grupo mais ameaçado na redistribuição de leitores que está ocorrendo com a consolidação da Internet enquanto suporte para a informação jornalística seria o dos jornais locais, uma vez que a geografia passa a ter menor peso na escolha da fonte notícia a ser acessada, tendendo a favorecer as “marcas de alcance nacional” (NYT, WP, USAToday, etc).
A afirmação soa estranha, pois seria justamente o local e o hiperlocal que teria futuro, podendo conviver com os “grandes”, que se encarregariam das notícias nacionais e internacionais. Pelo menos essa é a visão dominante na maioria das análises e a que parece ser mais lógica. Haveria que discutir-se melhor o que o relatório entende por local, neste estudo. Como quase sempre, estamos diante de problemas de “definições operacionais” e de metodologia de análise. Estamos falando de “local” em um sentido geográfico, ou de em termos de abragência temática e de cobertura jornalística?
Em seu blog Recovering Journalist, Mark Potts comenta que a metodologia usada no estudo está sofrendo (como sempre!) uma série de críticas, inclusive com alguns comentaristas dizendo que a depender da metodologia adotada, o número de leitores do USAToday, por exemplo, pode ser interpretado, como estável, crescente ou decrescente.
Indo além da discussão metodológica, Mark Potts faz um comentário próprio:
“(…) Suponhamos que a asserção básica do relatório seja verdadeira e que, excetuando-se os mega-sites, o trâfego nos jornais na Web tenha se estabilizado.
Isso surpreende alguém? A maioria dos jornais na Web são criações muito pouco inspiradas: de difícil navegação, com primeiras páginas empasteladas por conteúdo excessivo, sem atualização tão frequente como seria de se esperar, sem material realmente produzido para a Web, e com utilização escassa dos conteúdos realmente únicos na Web e que estão atraindo trâfego hoje em dia: vídeo, redes sociais, etc. (…)
De fato, a maioria dos jornais na Web parece ainda estar presa aos anos 90, quando “copiar e colar seu jornal numa tela” era a melhor idéia no mercado. Enquanto isso, blogs, wikis, sites de buscas, YouTube, Flicker, Facebook, iTunes e outros – todos com grandes audiências, diga-se de passagem,- estão redefinindo a apresentação de conteúdos na Web, deixando os sites de jornais atolados no passado, da mesma forma que suas versões impressas (…)
Além disso, muitos jornais online insistem em reproduzir enormes quantidades de notícias nacionais e internacionais que são encontradas em toda a Web. Ninguém vai acessar o DailyBugle.com para obter esse tipo de material. Essa é mais uma razão para os jornais incrementem significativamente seu foco local e entendam que o local é a vantagem competitiva, que os leitores, online ou offline, não podem encontrar em outros sites.
Ao fim e ao cabo, Web sites pouco inspirados deverão ter o mesmo destino dos produtos impressos não inspirados: irrelevância e desaparecimento de audiência e publicidade.”

marcos palacios