Via Ponto de Análises fiquei sabendo da publicação, pela Unesco, de um livro que sugere modelos curriculares para o ensino do jornalismo, em países em desenvolvimento e democracias emergentes.
O documento, com 150 páginas, foi apresentado no Congresso Mundial Sobre Ensino de Jornalismo, que aconteceu em Singapura, nos dias 28 e 29 de junho. Foi produzido por uma comissão de especialistas internacionais, com ampla experiência no ensino de jornalismo.
Será traduzido para as principais línguas, mas já está disponível em inglês .
O documento sugere modelos curriculares para cursos de três anos ou quatro anos (Graduação), cursos de Mestrado de vários tipos e cursos pós-secundários de mais curta duração. Propostas de programas para as diversas disciplinas estão também incluídas, com respectivas ementas, cronogramas, formatos de avaliação e bibliografias. Certamente trata-se de material importante, que deve merecer discussões e análises
Após uma vista rápida pelo documento, e ainda sem entrar propriamente em seu mérito, ocorre-me uma questão preliminar de fundo:
* Por que o Ensino de Jornalismo em “países em desenvolvimento e democracias emergentes” é considerado como diferente do ensino de Jornalismo em países desenvolvidos e democracias já plenamente “emergidas”? Além do fato de que a maioria dos especialistas convocados têm alguma experiência de ensino em países em desenvolvimento, não há outras explicações.
Há maneiras fundamentalmente diferentes de se fazer jornalismo em diferentes países? Posso pensar em “riscos” diferenciados para o exercício da profissão em distinta realidades nacionais, mas não logro entender que técnicas, princípios éticos, formação humanística, etc possam substancialmente diferenciar o ensino em “países em desenvolvimento”.
Se o problema se coloca em termos de acesso a equipamentos, espaços laboratoriais, tecnologias e ferramentas, isso não transparece no documento. E, ainda assim, seria o caso de propor coisas do tipo “se você não tem uma câmera para seus estudantes usarem, desenhe uma no quadro negro”?
A bibliografia apresentada está, quase que sem exceções, composta por referências em inglês, mas o documento acena com a promessa de realização de seminários regionais para adaptação das disciplinas às realidades nacionais.

marcos palacios