Pessoal,

Depois de anunciada hoje a compra pela canadense Thomson da Reuters, vamos dar uma olhada em como ocorreu essa articulação e um pouco o que pode vir nos próximos dias.

Desde a semana passada, o jornal britânico “The Independent” já ventilava no caderno de economia que a negociação para a venda da agência de notícias ‘Reuters’ estaria a um passo de ser concluída.

Segundo fontes ouvidas pelo independent, o grupo canadense `The Thomson Corporation’, que está por trás da proposta , ofertaria a Reuters £ 8,8 bilhões, algo como US$ 17,2 bi, ou 34,5 bilhões de reais. É uma conta alta e, para negociar, estima-se que as conversas estariam sendo conduzidas desde setembro de 2006.

A dúvida agora é se o board trustee, espécie de bureau regulador da participação acionária da Reuters dará o sinal verde. Esse bureau determina que nenhum acionista ou grupo tenha mais que 8% de participação acionária da Reuters. Mas parece que devido a grande soma envolvida, a exceção será aberta. No site da própria agência que acompanha o movimento e valor das ações, a própria Reuters era indicada como “valendo” £ 7,9 Bi.
( cf: http://stocks.us.reuters.com/stocks/overview.asp?symbol=RTR.L ). A valorização das ações da Reuters foi estratosférica nos últimos 12 meses, quase dobrando o valor em ações. Só hoje, com o anúncio público da negociação, as ações subiram 3,39%, o que representou um ganho acionário indireto de £ 298 milhões.

A resposta sobre aprovação da compra deve acontecer daqui a poucos dias e, segundo a direção da Thomson, não haverá mudanças na linha jornalística da agência. Mas com tanto valor envolvido, pairam dúvidas se quem paga esse preço pela “orquestra” vai abrir mão da “música” que será tocada!

Um reflexo disto é que sindicatos que representam os funcionários da empresa nos EUA, no Reino Unido e no Canadá se uniram e manifestaram em cartas enviadas ao comando da Reuters sua preocupação referente à “independência e integridade” editorial do veículo, consolidado durante os 156 anos de existência da agência, além de se mostrarem contrários à fusão.

Fusão ou compra? É sintomático observar que com a compra, ou fusão, Thomson-Reuters passa a ter participação de 34% da fatia de informações para o mercado, contra 33% da Bloomberg, que desde os anos 1990 vêm crescendo nesse setor de serviços. Os sinais são nítidos de uma tentativa de reação ao crescimento da Bloomberg, o que, segundo analistas, soaria o alarme para a aplicação de leis antitruste. Para quaisquer efeitos, sob uma ótica pragmática, o grupo Thomson-Reuters passa a ser o número 1 em tamanho, coisa que a Reuters já era em número de serviços e do tamanho da sua rede de dados privada, mas não em faturamento.

Outro ponto a se observar é que a Thomson é uma das líderes mundiais no segmento de soluções para a comunicação, com conteúdo e ferramentas voltadas para empresas, instituições de ensino e indivíduos e conta com mais de 30 subsidiárias. Justamente uma área onde a Reuters vinha sofrendo sucessivas derrotas para a Bloomberg e que é essencial para estabelecer o fluxo de alta velocidade de notícas e informações que os serviços financeiros exigem.

A Thomson também atua no mercado editorial. No Brasil, por exemplo, está voltada para a educação superior, ensino do idioma inglês e comercialização de bancos de dados e obras de referência.

A guerra entre agências está, pelo visto, longe de acabar. Não se trata da Thomson contra a Reuters, e sim as duas contra a Bloomberg. Para unir dois adversários, ainda vale a máxima: arrume um inimigo comum a eles.

Abraços a todos, – Afonso Jr.

Fontes: News Release
Reuters
Thomson
The Independent