O jornal El Comercio reproduz material da agência EFE, em que o escritor peruano Alfredo Bryce Echenique lamenta que os computadores tenham substituído as tradicionais cartas de correio por e-mails. No entanto, na mesma entrevista, concedida em Santo Domingo, ele afirma achar”maravilhoso ter um computador e poder mandar mensagens. É formidável para escrever, para arquivar.”
Um dos problemas para Echenique é que “acreditávamos que o computador acabaria com o analfabetismo. Mas não, apenas criou mais solidão”.
Acredito que caibam algumas considerações: será que o mail subsitituiu mesmo as cartas tradicionais?
O telefone, em ligações de longa distância, a preços decrescentes, já não vinha fazendo este trabalho de “anacronização dos hábitos epistolares”?
Não seria verdade, inversamente do que sugere Echenique, que a facilidade de contato proporcionada pelo computador de certa forma recuperou parte de nossos “hábitos epistolares”, que estavam indo pelos ares com a oralidade telefônica?
Mesmo que mensagens de e-mails sejam caracterizadas (em geral) pela brevidade, com cerca de um bilhão de pessoas conectadas à Internet, o volume de texto trocado é imenso. A brevidade deve ser vista num contexto de instantaneidade e de alta frequência de troca de mensagens.
Com as cartas tradicionais que Echenique tanto preza, acontecia o inverso: escrevíamos textos mais longos, com frequência muito menor, aguardávamos semanas para que a carta chegasse ao destino e tivéssemos uma resposta. E, em alguns países, a depender da qualidade dos serviços postais, a resposta poderia levar, literalmente, uma Eternidade.

marcos palacios