Abaixo transcrevo o editorial do Zero Hora comentando a vitória do Inter sobre o Barcelona no Japão.

Elias Machado.

Orgulho do Brasil

O Rio Grande ficou maior com o título conquistado ontem pelo Internacional. Ao trazer para Porto Alegre pela segunda vez a principal distinção do esporte mais popular do planeta, o Inter dá visibilidade ao Estado, eleva a auto-estima dos gaúchos e contribui para a promoção dos nossos valores. Como representante brasileiro e sul-americano, o clube gaúcho deu uma lição de bravura esportiva que serve de exemplo para outras áreas e segmentos da sociedade.

Toda vez que Davi vence Golias, o mundo se espanta e se encanta com a supremacia da argúcia sobre a força, da persistência sobre os obstáculos e da fé sobre a aparente impossibilidade. Ontem, o futebol renovou estas lições, com o significativo triunfo do Internacional sobre o poderoso Barcelona na final do Campeonato Mundial de Clubes. Impulsionado pela energizante paixão de sua torcida, o clube gaúcho derrubou, com uma única e certeira pedrada, o gigante europeu que mantém a peso de euros um elenco de astros internacionais de primeira grandeza.

E não foi um golpe de sorte. Muito longe disso: a vitória do Internacional foi conseqüência da inquebrantável vontade de seus profissionais de derrubar o favoritismo do rival e também de uma corrente de energia positiva emitida por seus torcedores espalhados por todo o país. Evidentemente, tais sentimentos só se concretizaram em ações positivas porque todos os envolvidos trabalharam muito para alcançar o grande objetivo. Até chegar ao gol de Adriano Gabiru, momento máximo da epopéia colorada em Yokohama, o Inter passou pelas fases do planejamento, do investimento, do treinamento árduo, dos altos e baixos de uma campanha difícil na Libertadores, fases essas sempre acompanhadas da crença de que era possível melhorar e seguir adiante.

O maior exemplo de persistência ocorreu exatamente com o jogador que acabou marcando o gol do título. Adriano Gabiru, com quem o técnico contava para substituir Tinga, nunca conseguiu se firmar como titular e ainda teve que enfrentar a desconfiança de parte da torcida. Nos momentos mais agudos desta crise, porém, contou com o apoio do técnico Abel Braga, que soube administrar exemplarmente a situação. Chegou mesmo a colocar o jogador no time em partidas fora do Beira-Rio, poupando-o de eventuais manifestações de descontentamento nos jogos em casa.

Deu certo: quanto precisou, pôde contar com um atleta motivado e com a auto-estima preservada.

Mas não foi a vitória de apenas um atleta. O Internacional foi antes de tudo um conjunto de vontades e ações. Mesmo no jogo histórico de ontem, ninguém se sobressaiu a ponto de ofuscar os demais. Pelo contrário, o que se evidenciou foi o esforço coletivo de uma equipe determinada a conter um adversário reconhecidamente superior em técnica e prestígio. No final, os campeões da América se impuseram com justiça e merecimento sobre os senhores da Europa.

São muitos os construtores desta obra monumental, a começar pelo presidente Fernando Carvalho e sua diretoria, passando por todo o corpo técnico comandado por Abel Braga e Paulo Paixão, pelo grupo de atletas liderado por Fernandão, Clemer e Iarley, e completando-se com o contingente incomensurável de torcedores. Todas essas pessoas colaboraram de alguma forma para que o Clube do Povo do Rio Grande do Sul justificasse ontem a letra premonitória de seu hino, transformando-se efetivamente num “orgulho do Brasil”.

A histórica conquista colorada também reequilibra a rivalidade local e dá ao Rio Grande do Sul uma posição invejável no cenário futebolístico nacional e internacional. Assim como o Grêmio de 1983, o Internacional de 2006 vai para a galeria dos campeões mundiais e leva para o Beira-Rio a mesma orgulhosa legenda ostentada durante mais de duas décadas no Olímpico: “Nada pode ser maior”.

Nada pode ser maior do que o trabalho e a fé. Nada pode ser maior do que a vontade e a ação. Nada pode ser maior do que o talento individual e o esforço coletivo. Nada pode ser maior do que a paixão e o sonho. Nada pode ser maior do que a esperança e a busca incessante do objetivo. Nada pode ser maior do que milhares de corações pulsando no mesmo ritmo. Nada pode ser maior do que a comemoração de uma conquista justa e merecida.

Davi só derrota Golias quando conjuga todas essas virtudes.

Privilégio
Apenas seis cidades em todo o mundo têm mais de um campeão mundial de clubes: São Paulo, Buenos Aires, Montevidéu, Milão, Madri e, agora, Porto Alegre.