Evento trouxe pesquisadores do campo, como o professor João Canavilhas, para debate sobre inovação, ética e estratégias do fazer jornalístico no digital

Lucas da Hora*

O Seminário GJOL: 30 anos do Jornalismo Online, realizado na última semana na FACOM, celebrou três décadas do grupo de pesquisa e do jornalismo online no Brasil. Fundado por Elias Machado e Marcos Palacios, o pioneirismo é a marca do GJOL que, em 1995, compreendeu que a novidade não se tratava de uma “onda passageira”.

A velocidade com que a internet se desenvolvia causava dúvida na academia, mas Machado e Palacios logo perceberam um campo fértil para a pesquisa científica. “A soma da estranheza era sobre a rapidez com que essas transformações estavam tendo lugar e muita gente se perguntava: será que é possível trabalhar, em termos acadêmicos com seriedade, fenômenos que são tão efêmeros e tão rápidos?”, relembra Palacios, em videoconferência de abertura do seminário.

Relevante nacionalmente, o grupo de pesquisas da UFBA fundou o campo de pesquisa em jornalismo digital no Brasil. “É a partir do GJOL que os estudos se iniciaram no país, o que nos permitiu compreender todo o processo de transformação que aconteceu com o jornalismo, desde o que se vincula diretamente com a internet comercial, o surgimento da web até o começo da criação de sites jornalísticos em 95”, relembra Suzana Barbosa, atual coordenadora do grupo.

O evento contou com palestras sobre o cenário atual do jornalismo online, como a de título “E a internet Tudo Levou” ministrada por João Canavilhas, docente da Universidade Beira Interior de Portugal e investigador em Comunicação e Novas Tecnologias. O jornalismo pensado no contexto da internet também completa 30 anos no país português e na Espanha.

Completaram a programação do encontro 6 minicursos, dentre eles: como elaborar projetos de pesquisa: o Método GJOL, criação de mapas jornalísticos baseados em dados geoespaciais e aplicação de métodos visuais para análise de coleções de imagens jornalísticas.

Estudante de jornalismo, Vanessa Ferreira participou do seminário com o intuito de entender um pouco mais sobre o jornalismo digital. “As discussões sobre novas linguagens, formatos e ferramentas me ajudaram a pensar em formas mais criativas e interativas de produzir e distribuir conteúdo jornalístico”, afirma Vanessa. “Além de reforçar a importância da inovação sem perder o compromisso de informar o público”, completa.

As produções de mestres e doutorandos desenvolvidas no GJOL também foram destaque no seminário. Pesquisas como a da mestra Victoria Dailly, que busca entender como a geração mais jovem do jornalismo narra suas histórias,  a de Alexandro Mota, doutorando do grupo, que destrincha como jornalistas começaram a vigiar um quinto poder e a pesquisa do doutorando Pedro Vasconcelos, que investiga o planejamento de produções especiais do jornalismo digital.

Confira a produção do GJOL ao longo do tempo: dashboard reúne dados sobre pesquisadores e produção científica do grupo. 

 

30 anos: O que mudou? O que ainda é inegociável? 

Tornar os produtos jornalísticos atrativos ao público mais jovem tem sido um dos principais desafios dos veículos noticiosos, é o que explica João Canavilhas. “A internet fragmentou a troca de informações. Logo, os jornais deixaram de ser os principais mediadores da informação”, alerta o pesquisador. “Mas as redes sociais devem ser usadas pelos jornais para atrair os jovens. Se a nossa comunidade [jornalística] não fizer isso, alguém vai fazer no nosso lugar”, destaca Canavilhas.

Mesmo com o surgimento de novos agentes de notícias, para Suzana Barbosa ainda há uma diferença evidente entre os newsfluencers¹ e os jornalistas. “O jornalismo precisa se abastecer de técnicas, de formatos criativos para produzir seus conteúdos, mas o jornalismo ainda é muito distinto daquilo que influenciadores em geral vão fazer”, afirma a docente. “O jornalismo precisa seguir princípios éticos, deontológicos, pois busca ser um serviço público. Então tem que ter muita responsabilidade para assegurar credibilidade e autoridade. Por isso, ter uma marca jornalística de relevância, precisa seguir princípios que o jornalismo defende”, justifica.

Ciente dos desafios, Canavilhas propõe uma solução para manter a relevância social do jornalismo. “Ao completar 18 anos os jovens escolhem um veículo de comunicação para se informar. O custo da assinatura seria pago pelo governo. Essa articulação incentiva os jovens a consumirem notícias escritas por profissionais que foram qualificados para tal função”, defende Canavilhas.

Todo o conteúdo do Seminário GJOL: 30 anos de Jornalismo Digital pode ser conferido no Youtube,  no canal do grupo.

Fonte: matéria postada originalmente no site da Facom.

* repórter do Núcleo de Comunicação e Extensão da Faculdade de Comunicação (FACOM | UFBA)

 

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¹Segundo o ebook  “Criadores de conteúdo e jornalistas: Redefinindo as Notícias e a credibilidade na era Digital”, o conceito se refere aos influenciadores ou criadores de conteúdo  que tem como matéria prima as notícias.