Se você acompanha notícias, estudos e tendências sobre o jornalismo digital, já deve ter visto o termo “newsinfluencer”. A palavra que, em português pode ser traduzida para influenciador de notícias, está em ascensão nos últimos anos e tem ganhado cada vez mais posição na esfera das notícias, segundo a pesquisadora Summer Harlow (2024). Para se ter uma ideia dessa ascensão, no ano passado, a Convenção Nacional dos Democratas nos Estados Unidos concedeu credenciais de imprensa a mais de 200 newsinfluencers para cobrir a nomeação de Kamala Harris à presidência do país norte-americano (Harlow, 2024). Não bastasse isso, eles também cobriram as convenções dos republicanos e democratas, uma vez que foram credenciados pelos próprios partidos para tanto. Os newsinfluencers ainda entrevistaram os candidatos e realizaram arrecadações de fundo para eles, conforme aponta o Pew Research Center[1].

Mas, afinal, o que são newsinfluencers? E o que se sabe sobre eles, até o momento? Segundo o pesquisador Edward Hurcombe, newsinfluencers podem ser definidos como “criadores plataformatizados que operam de acordo com as lógicas econômicas e culturais dos influenciadores online para produzir conteúdo de notícias para públicos participativos” (2024, p. 2). O Reuters Institute, com o intuito de obter informações sobre esses novos atores (além de criadores de conteúdo, personalidades e veículos alternativos), como os assuntos que discutem e o quão confiáveis são informações que eles compartilham com seu público, desenvolveu uma pesquisa em cinco países (Estados Unidos, Reino Unido, França, Argentina e Brasil), analisando seis das redes mais populares para notícias que são o Facebook, X (antigo Twitter), YouTube, Instagram, Snapchat e TikTok (Newman, 2024).

Para tanto, os pesquisadores solicitaram aos entrevistados que nomeassem até três contas de veículos de legado e alternativos – nas plataformas acima mencionadas – que mais acompanhavam de perto para consumir notícias (Newman, 2024). O pesquisador Nic Newman ressalta que a metodologia desenvolvida para a pesquisa se baseia nas percepções do público sobre o que é notícia.  Ele afirma que os entrevistados, além de citarem criadores de conteúdo e comentaristas de notícias, também citaram personalidades, como a cantora Taylor Swift e o jogador de futebol Lionel Messi, que raramente postam sobre assuntos relacionados a política. Assim, descobriu-se que muitos entrevistados, em sua maioria, jovens, têm uma visão ampla de notícia, tendo em vista terem incluído atualizações sobre, por exemplo, comida, moda, esportes e condicionamento físico (Newman, 2024).

Entretanto, a pesquisa focou em jornalistas, influenciadores e vozes alternativas que abordam principalmente notícias e política em suas contas nas plataformas, e os comparou com veículos jornalísticos que fazem o mesmo. Vejamos abaixo os achados da pesquisa em relação aos Estados Unidos e ao Brasil, países foco deste texto.

O que a pesquisa diz sobre os Estados Unidos

Os pesquisadores do Reuters Institute identificaram que nos Estados Unidos há um consumo maior de notícias no YouTube, em comparação com muitos outros países. A maioria dos usuários da plataforma se informam por meio de fontes de notícias alternativas. Mesmo padrão identificado no X (antigo Twitter), plataforma que reorientou sua estratégia para conteúdos em vídeo e tem apoiado comentaristas como Tucker Carlson, que foi demitido pela Fox News, e após o ocorrido construiu uma audiência significativa na referida plataforma (11,6 milhões de seguidores[2]) (Newman, 2024).

Figura 1: Tucker Carlson

Fonte: Captura de tela feita pela autora em 9 de janeiro de 2025.

Carlson lidera a lista dos indivíduos mais citados pelos entrevistados juntamente com Joe Rogan, um comediante de stand-up norte-americano, que apresenta um programa diário – de sucesso – no YouTube (e também no Spotify). Segundo Newman, chama a atenção o fato de todos os nomes individuais mais citados na pesquisa serem conhecidos por fazerem comentários políticos ou realizarem bate-papo, em vez de coleta de notícias originais. O pesquisador informa que a maior parte do conteúdo produzido por esses indivíduos é partidário, com pouca ou nenhuma tentativa de mostrar o outro lado da história (Newman, 2024). Carlson e Rogan, por exemplo, foram caracterizados pela pesquisa como conservadores.

A lista com os dez mais indivíduos mencionados pelos entrevistados é formada somente por homens. Muitos deles dificilmente podem ser considerados “alternativos”, já que possuem décadas de experiência na mídia de legado. Sobre as vozes alternativas, Newman (2024) afirma que elas foram mais citadas do que a mídia de legado, entretanto, os veículos de legado e seus jornalistas ainda foram responsáveis por 42% das menções da amostra. O veículo mais citado foi a CNN que inclusive teve cinco vezes mais menções do que Tucker Carlson, maior conta individual. Âncoras da mídia de legado, como Anderson Cooper (CNN), também apareceu na lista, figurando em 7º na lista com os 10 mais citados. Cooper está presente no X, com 9,5 milhões de seguidores[3], e no Instagram, com 4,1 milhões de seguidores (Newman, 2024).

O que a pesquisa diz sobre o Brasil

No Brasil, verificou-se que os maiores veículos jornalísticos do país, como Globo, Record e CNN Brasil, trabalham com seus apresentadores de TV para construírem perfis e influência nas plataformas. O nome mais citado pelos entrevistados foi o do jornalista Alexandre Garcia, que trabalhou mais de três décadas na TV Globo e fez uma rápida passagem na CNN Brasil. Garcia, que é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi acusado de espalhar informações falsas sobre a Covid-19 e teve centenas de vídeos removidos do YouTube. Nessa plataforma, ele possui 2,7 milhões de seguidores[4]. Já no X (antigo Twitter), outra rede social que utiliza, ele possui um número maior de seguidores, 4,2 milhões[5] (Newman, 2024).

De acordo com Newman (2024), uma marca distintiva das plataformas no Brasil é a “proeminência” de jornalistas e influenciadores famosos. Como exemplo, tem-se Leo Dias (15,6 milhões de seguidores no Instagram[6]) e Hugo Gloss (21,2 milhões de seguidores no Instagram[7] e 6,6 milhões de seguidores no Facebook[8]), que além de estarem presentes nas redes sociais, têm seus respectivos sites e ainda colaboram com portais de mídia de legado para estender seus alcances. Outros influenciadores também foram mencionados pelos entrevistados, como Virgínia Fonseca e Carlinhos Maia, embora eles raramente discutam temas relacionados a política ou a questões sociais (Newman, 2024).

 

Figura 2: Os newsinfluencers mais citados no Brasil.

Fonte: Captura de tela feita pela autora em 9 de janeiro de 2025.

No Brasil, há ainda os casos de políticos que estão presentes nas redes sociais, o que, segundo Newman, permite que eles construam conexões diretas com os eleitores e, até contornem o escrutínio da mídia de legado. O atual presidente do Brasil, Lula, tem 13 milhões de seguidores no Instagram[9]; o ex-presidente Bolsonaro tem 12 milhões no X[10] (antigo Twitter).

A quais conclusões os pesquisadores chegaram?

Segundo Newman (2024), tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil um número maior de notícias alternativas e contas individuais foram mencionadas em oposição aos principais veículos jornalísticos de legado e aos jornalistas. Tal fato, de acordo com o pesquisador, sugere que a tendência em direção aos newsinfluencers é muito mais desenvolvida nesses mercados.

Em relação ao conteúdo em si, descobriu-se que muitas das contas mais citados pelos entrevistados são de comentaristas políticos partidários, seja de esquerda ou de direita. Eles produzem conteúdo, por exemplo, que muitas vezes fica de fora do que normalmente seria noticiado pela mídia de legado. Alguns desses influenciadores chegaram a ser criticados por imprecisões factuais e por espalhar conspirações ou narrativas enganosas (por exemplo, Alexandre Garcia), mesmo sendo considerados altamente confiáveis por aqueles que compartilham suas visões políticas (Newman, 2024).

De acordo com Newman (2024), muitos dos comentaristas, que agora estão comprometidos com a distribuição online, enfatizam sua capacidade de falar livremente, se colocando como uma alternativa a mídia de legado, que, segundo eles, suprimem a verdade ou são movidos por “interesses corporativos e de elite”. Entretanto, conforme ressalta o pesquisador, qualquer aumento na gama de visões não é acompanhado pela diversidade. As contas mais populares são majoritariamente brancas e masculinas, não só nos EUA e no Brasil, mas também nos três países estudados: Argentina, França e Reino Unido.

Com a pesquisa realizada pelo Reuters Institute, verificou-se que há uma popularidade de newsinfluencers que conseguem falar com públicos mais jovens, principalmente por meio de conteúdos em formato de vídeo. Verificou-se também que em alguns países, como no Brasil, políticos populistas estão chamando a atenção em uma variedade de plataformas, como Instagram, X (antigo Twitter), YouTube e TikTok. Isso permite que eles enviem suas mensagens diretamente aos seus apoiadores, ignorando a mídia de legado. Além disso, há ainda celebridades e influenciadores, cujos seguidores superam os de jornalistas e políticos, mesmo que raramente eles discorram sobre assuntos referentes à política (Newman, 2024).

A partir da pesquisa, Newman (2024) conclui que a vitalidade de vozes alternativas nas plataformas, de certa forma, ressalta as fraquezas percebidas de organizações jornalísticas no que se refere a questões como confiança e diversidade. Com isso, segundo o pesquisador, a mídia de legado “tem muito a aprender sobre como envolver melhor o público neste espaço cada vez mais complexo e competitivo” (Newman, 2024, s.p.).

 

Referências

HARLOW, Summer. Introdução. In: ________ (org.). Criadores de Conteúdo e Jornalistas: Redefinindo as Notícias e a Credibilidade na Era Digital. Austin: Knight Center for Journalism in the Americas, 2024. p. 8-11.

HURCOMBE, Edward. Conceptualising the “Newsfluencer”: Intersecting Trajectories in Online Content Creation and Platformatised Journalism. 2024. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/21670811.2024.2397088?src=#abstract. Acesso em 15 dez. 2024.

NEWMAN, Nic. What do we know about the rise of alternative voices and news influencers in social and video networks? 2024. Disponível em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-report/2024/rise-alternative-voices-and-news-influencers-social-and-video-networks. Acesso em 15 dez. 2024.

 

[1] Disponível em: https://www.pewresearch.org/journalism/2024/11/18/americas-news-influencers/. Acesso em 15 de dezembro de 2023.

[2] Esse é o número de seguidores de Tucker Carlson quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o jornalista possui 15,2 milhões de seguidores na plataforma X (antigo Twitter).

[3] Esse é o número de seguidores de Anderson Cooper quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o jornalista possui 9,2 milhões de seguidores na plataforma X (antigo Twitter).

[4] Esse é o número de seguidores de Alexandre Garcia quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o jornalista possui 2,87 milhões de inscritos no YouTube.

[5] Esse é o número de seguidores de Alexandre Garcia quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o jornalista possui 4,5 milhões de seguidores na plataforma X (antigo Twitter).

[6] Esse é o número de seguidores de Leo Dias quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o jornalista possui 17,9 milhões de seguidores no Instagram.

[7] Esse é o número de seguidores de Hugo Gloss quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o jornalista possui 21,4 milhões de seguidores no Instagram.

[8] Esse é o número de seguidores de Hugo Gloss quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o jornalista possui 6,7 milhões de seguidores no Facebook.

[9] Esse é o número de seguidores de Lula quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o presidente possui 13,3 milhões de seguidores no Instagram.

[10] Esse é o número de seguidores de Bolsonaro quando a pesquisa foi realizada, no final de janeiro e início de fevereiro de 2024. Na presente data, 9 de janeiro de 2025, o ex-presidente possui 13,4 milhões de seguidores no Twitter (antigo X).