O uso diversificado e crescente de mapas no jornalismo reflete a busca por uma visualização mais rica e contextualizada da informação. Disso surgiu a questão: o que o site do GJOL tem publicado sobre “cartografias jornalísticas”?
Pelo mecanismo de buscas acessei a memória do site. O site é um notável memorial de tópicos da história da internet e uma amostra dos estudos do Jornalismo Digital que inspira outras(os) pesquisadoras(es) a fazerem buscas dos seus interesses.
Analisando o repositório oficial do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (GJOL) torna-se evidente a recorrência e a evolução do uso de mapas no contexto jornalístico. A comunidade profissional da quarta geração do jornalismo digital, cada vez mais assistido por computadores e remoto, incorporou fortemente a cartografia como nunca antes na profissão, cada vez mais orientada pelas grandes bases de dados de plataformas de geocomunicação, pela visualização de dados para geração de conhecimentos e pela cooperação jornalística para soluções práticas para comunidades conforme suas necessidades.
A partir de 2005, à medida que recursos geoespaciais saíram do domínio dos computadores e softwares e foram disponibilizados para dispositivos móveis e plataformas, o tema ganhou “notoriedade” – tendo como marco o lançamento da plataforma Google Earth.
Toda nova linguagem, plataforma ou protocolo, quando implica diretamente no jornalismo digital, requer do nosso campo acadêmico novos estudos, reflexões metodológicas e construções epistêmicas entre o que já se sabia em épocas anteriores e o que precisamos aprimorar em termos conceituais para pensar a atual web 3.0.
Afinal, a história da cartografia tem vinte séculos mas no jornalismo ela começa nas Américas no século XVII e no Brasil apenas no século XIX. Mas foi no século XXI que a tecnologia em convergência revolucionou o modo como usamos mapas não mais apenas para informação mas também para a comunicação.
As pesquisas encaram as geotecnologias da informação e comunicação (geoinformação e geocomunicação) em picos de interesse variáveis por esses objetos de pesquisas.
Desse modo, mapas on-line também exigem das pesquisadoras e dos pesquisadores contemporâneas(os) a necessidade acadêmica de se constituir uma agenda de pesquisas sobre a “cartografia jornalística” da perspectiva dos estudos sobre Jornalismo Digital, visto que a mídia on-line foi a que mais provocou a atual “virada espacial” dos estudos nas Ciências Aplicadas, o que inclui a Comunicação.
Da busca aos achados
Inicialmente, a busca pela palavra-chave “mapa” foi definida e realizada. Escolhemos examinar a quantidade de publicações por ano, a diversidade de abordagens das publicações sobre mapas no contexto jornalístico e os principais temas.
Utilizando o comando de busca específica “mapa+ano” (ex: “mapa+2007”), buscamos no site do GJOL as publicações ao longo dos anos 2006 e 2010 (cinco primeiros anos da geoweb nas rotinas do jornalismo digital). Vale ressaltar que as buscas não são automaticamente ordenadas de modo cronológico para esse site.
O interesse acadêmico do GJOL em acompanhar a adoção da comunidade profissional de jornalistas da quarta geração aos mapas on-line segue, em certa medida, a tendência da curva de adoção (gráfico 1) dessa mesma comunidade à inovações como uso de dados de GPS e informações de GIS para as rotinas produtivas de notícias e reportagens baseadas em dados geoespaciais (geodados) como mapas on-line e bases de dados de imagens de satélites (SAR).
Os resultados coletados indicaram que os pesquisadores possuem uma tendência à constância no interesse sempre pelo assunto, apesar do pico entre 2007 que foge à tendência de interesse dos(as) pesquisadores(as) da época pelo tema (entre 4 e 5 publicações ao ano).
Após coletar e analisar o conjunto total de publicações (N=51) do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (GJOL) ao longo de cinco anos, torna-se evidente a relevância dos mapas em todos os níveis empíricos e epistêmicos (social, profissional, científico e pedagógico) do Jornalismo.
Coletamos 51 publicações feitas em 5 anos, sendo três categorizações propostas por essa análise, conforme o gráfico 2.
Indicamos três abordagens para os mapas no jornalismo digital: 1) Mapas sobre jornalismo: quando jornalistas são os sujeitos e, em muitos casos, os autores dos mapas (N=7); 2) Mapas para jornalismo: quando mapas feitos por por cidadãos ou organizações e são noticiados (N=16); 3) Mapas no jornalismo: quando mapas são produzidos por especialistas em cartografia e circulados por jornalistas (N=28).
Vale destacar que entre a polifonia do termo “mapa” – do conceito à metáfora no campo da Comunicação – as postagens no site do GJOL tratam sobre “mapas midiáticos”; mapas que são mediatizados no/pelo/para jornalismo mas que se fundamentam no espaço geográfico.
Listagem dos achados por abordagens
Data | Autoria | Título | Abordagem |
Out/2006 | Marcos Palacios | Mapped Up: mais um dispositivo gráfico para acompanhamento de notícias através de RSS | Mapas sobre jornalismo |
Jan/2007 | Marcos Palacios | Placeblogger: diretório de blogs hiper-locais se abre para o mundo | Mapas sobre jornalismo |
Nov/2007 | Marcos Palacios | Jornalismo hiperlocal na web chega ao nível do rua-a-rua | Mapas sobre jornalismo |
Dez/2007 | Marcos Palacios | Um Guia para o Jornalismo Hiperlocal | Mapas sobre jornalismo |
Mar/2008 | Alberto Marques | Buscador de notícias apresenta resultados de forma geográfica | Mapas sobre jornalismo |
Mar/2008 | Alberto Marques | O mundo, de acordo com os jornais | Mapas sobre jornalismo |
Nov/2006 | Marcos Palacios | Liberdade de Imprensa: Mapa da situação mundial | Mapas sobre jornalismo |
Set/2006 | Marcos Palacios | Um dia de trânsito no Google | Mapas para jornalismo |
Fev/2007 | Marcos Palacios | Produzindo Google Maps costumizados: recursos para aprender fazendo | Mapas para jornalismo |
Abr/2007 | Marcos Palacios | Tráfego aéreo: uma representação visual | Mapas para jornalismo |
Abr/2007 | Marcos Palacios | O mundo como você nunca o viu | Mapas para jornalismo |
Abr/2007 | Marcos Palacios | Many Eyes permite que você crie suas visualizações de dados online | Mapas para jornalismo |
Mai/2007 | Marcos Palacios | Geo-tagging como recurso para jornalismo hiperlocal | Mapas para jornalismo |
Set/2007 | Marcos Palacios | Mapeando o futuro da Terra | Mapas para jornalismo |
Set/2007 | Marcos Palacios | Geotagging em fotografias: qual é o estado da arte? | Mapas para jornalismo |
Out/2008 | Adriana A. Rodrigues | Mapeamento visual de vôos | Mapas para jornalismo |
Abr/2008 | Marcos Palacios | WikiCrimes: registrando a ocorrência de crimes em cidades brasileiras | Mapas para jornalismo |
Dez/2008 | Alberto Marques | Cartografia em quatro dimensões | Mapas para jornalismo |
Abr/2009 | Marcos Palacios | Atividades de Open Source mapeadas | Mapas para jornalismo |
Abr/2009 | Adriana A. Rodrigues | Mapeamento dos casos de gripe suína no Google Maps | Mapas para jornalismo |
Ago/2006 | Marcos Palacios | Mapas e SMS: um experimento em jornalismo cidadão | Mapas para jornalismo |
Abr/2007 | Marcos Palacios | Mapa indica homicídios e tentativas de homicídio e recupera notícias | Mapas para jornalismo |
Jul/2007 | Marcos Palacios | Usando mapas no jornalismo multimídia | Mapas para jornalismo |
Ago/2007 | Marcos Palacios | Obras públicas fiscalizadas por aplicativo que usa Google Maps | Mapas no jornalismo |
Out/2007 | Marcos Palacios | Vídeos do YouTube com localização geográfica no Google Earth | Mapas no jornalismo |
Nov/2007 | Marcos Palacios | Mapeamento completo dos Terreiros de Candomblé em Salvador | Mapas no jornalismo |
Nov/2007 | Marcos Palacios | Não se perca em Pequim | Mapas no jornalismo |
Nov/2007 | Marcos Palacios | Vídeos mapeados com GPS | Mapas no jornalismo |
Dez/2007 | Marcos Palacios | Redes sociais: quem usa o que em que parte do mundo | Mapas no jornalismo |
Jan/2008 | Marcos Palacios | Colocando Londres na palma de sua mão | Mapas no jornalismo |
Mar/2008 | Alberto Marques | Cartografia está incorporada nas rotinas jornalísticas? | Mapas no jornalismo |
Mai/2008 | Marcos Palacios | Um jornal programável? The New York Times anuncia desenvolvimento de API | Mapas no jornalismo |
Mai/2008 | Adriana Alves Rodrigues | NYT e El País: Infografia em base de dados | Mapas no jornalismo |
Jun/2008 | Marcos Palacios | Mapeando o clima com Twitter | Mapas no jornalismo |
Jul/2008 | Marcos Palacios | Que horas são? | Mapas no jornalismo |
Ago/2008 | Alberto Marques | Cartografia do imperialismo | Mapas no jornalismo |
Set/2008 | Marcos Palacios | Até Maluf está usando mashups do Google Maps | Mapas no jornalismo |
Nov/2008 | Adriana A. Rodrigues | Mapeando teatro: registros culturais | Mapas no jornalismo |
Set/2009 | Marcos Palacios | Se os sites fossem países… | Mapas no jornalismo |
Jun/2010 | Marcos Palacios | A Geografia da Depressão: visualizando o crescimento do desemprego norte-americano | Mapas no jornalismo |
Out/2010 | Marcos Palacios | Mas, afinal, o que é Arte Digital? Bill Thompson discute, na BBC | Mapas no jornalismo |
Out/2010 | Marcos Palacios | Eleições: país bicolor não mostra o verde | Mapas no jornalismo |
Nov/2010 | Marcos Palacios | Saiba onde estão geograficamente situados seus seguidores no Twitter | Mapas no jornalismo |
Mai/2007 | Marcos Palacios | GOL!!!! Sonorizando Mapas do Google Earth | Mapas no jornalismo |
Abr/2007 | Marcos Palacios | Mapa interativo do Universo | Mapas no jornalismo |
Mar/2007 | Marcos Palacios | Mapa interativo dos recursos bibliográficos no mundo | Mapas no jornalismo |
Mar/2007 | Marcos Palacios | Mapa interativo da violência em Badgá | Mapas no jornalismo |
Mar/2007 | Marcos Palacios | Mapa interativo da censura na Net: onde está o Brasil? | Mapas no jornalismo |
Jan/2008 | Marcos Palacios | O mapa da corrupção mundial | Mapas no jornalismo |
Jul/2007 | Alberto Marques | Vídeos e mapa levam a um tour em Bagdad | Mapas no jornalismo |
Jan/2007 | Marcos Palacios | Não, não é o Mapa do Metrô de Londres. É a Net em 2007… | Mapas no jornalismo |
Essas 51 publicações fornecem pistas sobre os temas da época, um panorama dos pesquisadores e pesquisadoras que deixaram pegadas nessa trilha estreita da pesquisa em Comunicação no Brasil. Identificamos e agrupamos qualitativamente de quatro temas entre os achados.
Jornalismo Hiperlocal e Geolocalização
Por exemplo:
- “Jornalismo hiperlocal na web chega ao nível do rua-a-rua”
- “Geo-tagging como recurso para jornalismo hiperlocal”
- “WikiCrimes: registrando a ocorrência de crimes em cidades brasileiras”
Visualização de Dados Geográficos
Por exemplo:
- “Buscador de notícias apresenta resultados de forma geográfica”
- “Mapeamento visual de vôos”
- “Geotagging em fotografias: qual é o estado da arte?”
Tecnologia e Ferramentas de Mapeamento
Por exemplo:
- “Mapped Up: mais um dispositivo gráfico para acompanhamento de notícias através de RSS”
- “Produzindo Google Maps customizados: recursos para aprender fazendo”
- “Saiba onde estão geograficamente situados seus seguidores no Twitter”
Cultura e Sociedade em Contexto Geográfico
Por exemplo:
- “Todas as localidades da Bíblia no Google Maps”
- “Redes sociais: quem usa o que em que parte do mundo”
- “Cartografia do imperialismo”
Algumas conclusões
A variedade de abordagens no site do GJOL sobre esse tema, iniciadas em 2006, evidencia a versatilidade da cartografia digital e dos mapas on-line, permitindo desde a representação de dados até a visualização de informações e dados geoespaciais em diferentes contextos jornalísticos pelo mundo.
Esse panorama reforça a necessidade contínua de explorar e aprimorar o uso dos mapas e mapeamentos jornalísticos da web para enriquecer a comunicação no jornalismo digital contemporâneo, aproximando-se ou distanciando-se nas escalas geográficas (locais, regionais, nacionais e internacionais) dos acontecimentos noticiosos.
A análise estatística dos achados aponta para a assimilação dos mapas on-line como uma ferramenta do jornalismo contemporâneo de interesse dos estudos em Jornalismo Digital.
Porém ainda existem questões epistemológicas e metodológicas para esse objeto de estudo nos campos da Comunicação e dos Estudos do Jornalismo. Algumas delas foram publicadas em um artigo recente pela revista (A1) Questões Transversais.
Estamos iniciando no nível da categorização desses mapas “socialmente poderosos e empoderadores” como propomos na pesquisa de doutorado sobre as “cartografias jornalísticas” e o seus “conceitos e práticas” no contexto do jornalismo baseado em dados geoespaciais.
Acompanhem-nos pelo site do GJOL para saber dos rumos desta e de outras pesquisas do grupo pioneiro em pesquisas digitais no Jornalismo.
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