Lupa e Agência Pública lançaram dois projetos de inovação, um na procura de novas formas de financiamento e o outro como aposta na diversificação da apresentação de conteúdo.
Agosto trouxe alguns lançamentos interessantes para o jornalismo digital, tanto na procura por fontes de financiamento como para a diversificação da apresentação de conteúdo. Ambas as questões, centrais para os veículos nativos digitais, estão sendo constantemente pensadas por acadêmicos e profissionais. Sobre a primeira questão, não é novidade ouvir falar de uma empresa de jornalismo que decide implementar algum tipo de modelo no qual solicita dinheiro de seu público. Porém, a forma como cada veículo adequa esses modelos segundo seu próprio contexto social, sua origem e estrutura faz com que seja interessante olhar cada tentativa de maneira individual.
Claro, não se trata de considerar as práticas de maneira isolada, senão, dentro do grande marco que representam os modelos centrados no público, ver as particularidades com as quais cada meio consegue estabelecer e alcançar suas próprias metas de rentabilidade e sustentabilidade.
No primeiro caso, a Lupa, a primeira agência de fact-checking do Brasil, anunciou no dia 3 de agosto o lançamento de Contexto, um programa de membros que começou ser idealizado no começo do ano, após o veículo ser escolhido pelo Media Development Investment Fund e receber treinamento do Membership Puzzle Project (NYU). Entre as possibilidades que Lupa oferece a partir da associação estão o acesso a grupos de discussão com conteúdos sobre desinformação, a participação em um evento mensal sobre desinformação e descontos de 20% na inscrição das oficinas mensais do LupaEducação. Com valores de R $9,90 ou R $19,90 por mês, o meio quer que seus leitores fiquem mais próximos de seus conteúdos e do debate sobre fake news na web. Sem dúvida, os modelos de negócio digitais não são simples de implementar, pois acontecem em um ambiente de multiplicidade de informações, no qual o jornalismo tem um grau de exigência ainda maior.
Porém, a associação como modelo recente no jornalismo ainda tem muito que aprender e mostrar, e por isso, essa pode ser uma aposta interessante de veículos como a Lupa que tem uma temática mais focalizada em assuntos que afetam a democracia e por tanto um público de nicho.
Por outro lado, a Agência Pública, que já havia implementado há alguns anos o seu programa de membros, conseguiu pelo menos uma parte do financiamento de vários dos seus conteúdos com ajuda dos aliados. O podcast Pauta Pública que completa 25 episódios é um exemplo. Dessa vez a Pública iniciou um outro podcast (Cientistas na Linha de Frente) que só terá seis episódios e que estreou no dia 4 de agosto. Em episódios semanais, o podcast traz a história de vários cientistas que têm sido alvo da chamada onda de “anti-ciência”. O programa, também disponível na Rádio USP, já falou com José Augusto Morelli, Larissa Bombardi, Débora Diniz, entre outros. Os últimos dois episódios serão publicados nos dias 1 e 8 de setembro.
Mariana Simões é a jornalista encarregada de apresentar o podcast e quer mostrar para os brasileiros o trabalho que está sendo feito pela academia e quais são as dificuldades que esse grupo tem encontrado no atual contexto político e social.
Finalmente, inovação não quer dizer necessariamente novidade, às vezes uma reconfiguração ou até mesmo adaptação de algumas iniciativas já feitas em outros contextos podem ajudar as empresas de jornalismo digital a estarem mais preparadas para enfrentar os desafios dentro das salas de redação. Precisamente, esses veículos menores, que nasceram digitais e tratam assuntos ligados à vida política e social no Brasil, como é o caso da Lupa e da Agência Pública, poderiam ser espaços interessantes para utilizar, segundo Silveira (2016, p. 91 apud SAAD, 2016) , valores jornalísticos como a “diferenciação, exclusividade, aprofundamento e originalidade” para que o conteúdo jornalístico seja mais relevante para o público. Sendo isso particularmente importante em veículos que buscam a colaboração editorial e financeira de seu público em seus modelos de negócio. A aposta ao final carrega uma ideia de diversificação do debate público em redes digitais, uma tarefa que o jornalismo deve repensar constantemente.
Referências:
SAAD, Elizabeth et al. Tendências em Comunicação Digital. Grupo de Pesquisa em Comunicação Digital COM+. Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. ISBN 978-85-7205-156-9. 2016
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