babel

“Nada parece estar mais em seu lugar no mundo. Estamos entre o que deixou de ser e o que ainda não é.”

Babel – Entre a Incerteza e a Esperança, último livro de Zygmunt Bauman, foi lançado no segundo semestre do ano passado. O livro é escrito como se desse ao leitor a oportunidade de observar um diálogo entre o sociólogo e o jornalista Ezio Mauro, italiano com algumas décadas de experiência pelos principais jornais do seu país.

Comum à escrita de Bauman, a lucidez com a qual interpreta as transformações sociais, em Babel, encontra apoio na fala de Ezio Mauro, que sinaliza quando vai começar a falar através das iniciais “E.M” que antecedem os seus parágrafos, fazendo com que o livro tenha mesmo um aspecto de conversa, troca de ideias.

Apesar de aparecer em muitas resenhas como um livro que trata da crise da democracia, uma interpretação mais sensível e otimista diria que Babel retrata impasses entre política, globalização, força de trabalho, mas, sobretudo, enaltece a esperança e a coloca como principal fator que nos mantém vivos.

“De um lado, problemas políticos e econômicos produzidos globalmente devem ser solucionados localmente por governos que hoje não encarnam mais os antigos Estados-nação. De outro, uma hiperconectividade que pode dar, através das redes sociais, a sensação ilusória de ativismo e participação política, mas que funciona muitas vezes como mero desencargo de consciência. No meio, o tecido movediço que rege as relações incertas de nosso tempo e no qual, ainda assim, sobrevive a esperança.”

O que, sim, parece estar em crise é o comportamento, são os valores sociais, a noção de cidadania e participação. Para Bauman, as redes sociais deram aos usuários a possibilidade de apregoar livremente as opiniões particulares e nenhuma capacidade de formar uma opinião pública – impossível passar por aqui sem notar que as Redes de Indignação e Esperança (Castells, 2013) talvez tenham apenas ocupado espaços públicos e inventado essa lógica de participação em rede, que Bauman agora define como “estilhaços de percepções e aforismos” inundando a internet e criando um mar de comentários incapazes de produzir qualquer mudança efetiva.

“Com frequência cada vez maior, os eleitores apenas procedem mecanicamente – mais guiados por seus hábitos adquiridos que por alguma esperança de mudança para melhor ensejada pelo seu voto. Na melhor das hipóteses, eles vão às cabines eleitorais para escolher males menores. A ampla maioria dos cidadãos raramente acredita, se é que acredita, que a perspectiva de mudar o curso dos acontecimentos na direção certa – possibilidade que no passado tornava a democracia tão atraente e a participação ativa nos procedimentos democráticos tão desejável – está hoje entre as cartas do baralho e ao alcance da mão.”

O que possivelmente deu à obra uma ideia estar se referindo à crise da democracia foi o fato de os autores tratarem a crise política como um reflexo de outras deficiências sociais que culminam na política, talvez por ser essa a instituição social de maior valor e que, de certa forma, iguala e põe na mesma situação muitos países de sistema democrático e economia estável. No entanto, vale à pena considerar todas as vezes que a esperança é colocada em jogo, a começar pelo subtítulo da obra que, não por acaso, virou título do post.