O segundo dia de trabalhos do I Congresso Internacional de Ciberjornalismo foi aberto com a conferência “Journalism in Second Life”, do “embedded journalist” Hamlet Au (Wagner James Au na vida real), apresentado por Paulo Frías, da Universidade do Porto. Na sequência, breves comunicações tiveram lugar no Painel 4 – “Jornalismo e bloguismo”, que ofereceu relatos de experiências jornalísticas e sua adaptação ao formato blog.
O Painel 5 – “Inovação e empreendedorismo” – abordou outros tipos de experiências jornalísticas na Internet, relacionadas com questões técnicas, de inovação tecnológica e profissional.
A conferência de Mario Tascón (Dixired) titulada “Los periódicos de mañana, ¿se llamarán periódicos?” (Parte I – Parte II – Parte III – Parte IV), moderada pelo profesor da Universidade de Santiago de Compostela, Xosé Pereira, tratou da necessidade de mudança no tratamento da informaçao para Internet e do cuidado que temos que tomar com o que ele chama de “híbridos”. Para Tascón, os híbridos são, por exemplo, as replicações dos jornais de papel na Internet. Usa-se um meio diferente dos outros para fazer a mesma coisa. O problema é que a Internet possibilita usar além do texto outros formatos como vídeo, áudio, infografia etc… e fazer o mesmo que se faz no papel é subutilizar um meio que permite um enriquecimento maior da informação. Tascón utilizou para falar dos jornais a idéia de “marcas transmediáticas”, de Henry Jenkins, que trata dos efeitos da Web 2.0 na televisao. “Matrix“, por exemplo, é uma marca transmediática, que inclui uma trilogia de cinema, um vídeo-game, quadrinhos, etc… é uma marca que atravessa suportes. Há semelhanças entre os produtos, mas também é certo que cada um possui um desenvolvimento individual, com narrativas próprias, feitos por profissionais especializados para cada suporte. O leitor, ou o admirador da “franquia”, da marca Matrix, segue esta marca em todos os suportes. Os produtos são independentes, o que quer dizer que não importa se o “usuário” somente assiste ao filme ou somente conhece o jogo. Por outro lado, se este “usuário” consome todos os produtos da marca, tem uma experiência enriquecida pelas diferenças que existem entre os produtos da mesma marca. No jornalismo, Tascón considera que deveria ser feito o mesmo: não absorver os outros suportes, mas gerenciar de uma maneira distinta cada qual, tendo em mente que existe uma outra coisa que é superior ao jornal de papel, ou a televisão, uma marca que atravessa esses meios. Isso é o que faz a CNN, como exemplo, uma marca transmediática com uma televisão dominante. Por que então não existem mais marcas transmidiaticas que tenham uma web dominante? Isso é o que faz o Politico.com, que tem o domínio da web sobre o papel. Tascón utilizou os princípios propostos por Lev Manovich para explicar as características dos meios digitais, construídos por peças, e por isso, muito diferentes dos meios analógicos.
A apresentação dos resultados de um estudo sobre sites noticiosos portugueses, pelo Professor da Universidade do Porto e organizador do congresso, Fernando Zamith, e por Catarina Osório, membro do ObCiber, concluiu que em comparação com os anos anteriores ao estudo de 2008, os meios em geral faziam maiores uso e aproveitamento das potencialidades da web, com destaque para os diários econômicos e esportivos.
A videoconferência “Journalism and New Media: Talent not Technology”, proferida por Mark Deuze, abordou a prática do jornalismo na internet, comparou em retrospectiva o papel desempenhado na história pela versão impressa, e como conclusão, tratou de como o exercício da prática online desenvolveu nas redações uma nova cultura que, em muitos casos, não é somente distinta, mas totalmente oposta. Por este último contexto, o pesquisador anima o apoio às pequenas empresas, que segundo sua experiência, são mais inclinadas a inovar e a buscar novas formas de apresentação da informação. Para Deuze, “qualquer jornalista feliz e apaixonado pelo seu trabalho vai produzir notícias melhores e mais relevantes para a comunidade”. Esta videoconferência foi apresentada e moderada pelo Professor Rui Novais, das Universidades do Porto e de Liverpool.
“Tendências do Jornalismo para a Emergente Sociedade em Rede” foi o título da conferência de encerramento do congresso, proferida pelo Professor da Universidade do Texas, Rosental Calmon Alves. Apresentado pelo Professor Fernando Zamith, Rosental iniciou sua fala com uma chamada de atenção àqueles jornalistas que ainda resistem às mudanças da chamada “revolução digital”. As transformações possuem três aspectos fundamentais: as redes ativas substituem ou convivem com as redes passivas; os meios multimídia convivem com os meios monomídia; há ruptura da periodicidade tradicional das empresas informativas. Esta ruptura com os meios tradicionais é inevitável já que o jornalismo deixa de ser monopólio do jornalista, os produtos fechados deixam de sê-lo ao se abrirem à participação do público e, cada vez mais, se percebe a ascensão dos meios sem fins lucrativos e de novos modelos de negócio. Para Rosental, “esta “revolução digital é uma reconstrução que não respeita fronteiras”.
Ana Serrano Tellería
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