A RCTV da Venezuela, que teve sua concessão cassada pelo governo de Hugo Chávez, continua transmitindo seus telejornais.
Trabalhando com uma equipe pequena, o telejornal vai ao ar através do YouTube.
As informações insistentemente circulando pela blogosfera de que nos Estados Unidos também se cassam concessões e que 141 foram cassadas desde 1934, em nada justifica ou relativiza o ato de censura venezuelano, especialmente em se tratando de uma das poucas vozes de oposição ao regime chavista, concordemos ou não com ele ou com as posições assumidas pela empresa de comunicação.
Nos tempos mais tenebrosos da ditadura militar brasileira, muitos de nós não poderíamos estar mais distantes, ideologicamente, das posições do jornal O Estado de São Paulo, mas os atos de censura, sofridos pelo jornal dos Mesquitas, mobilizaram a simpatia de uma boa parcela da esquerda, naqueles entonces.
Censura é censura. Ou o direito à livre expressão só vale quando o que se expressa coincide com o que pensamos ou sentimos?
marcos palacios
02/06/2007 at 15:09
Caro Marcos,
a situação na Venezuela é complexa, nem tão “ditador-populista-que-censura-a-mídia”, nem tão “farol-da-nova-esquerda-do-século-21”.
É difícil encontrar uma cobertura isenta sobre o caso RCTV: as emissoras comerciais taxam logo de censura, por motivos óbvios. A esquerda defende o “ato soberano do Estado”. (inclusive, aproveito para sugirir a cobertura que estamos fazendo na Agência Brasil; na minha opinião, o mais balanceado possível, e trazendo elementos que normalmente não se vê). Por exemplo, a RCTV era a maior voz de oposição, mas não é nem de longe “uma das poucas”. Praticamente todas as que não estão sob controle do Estado são de oposição – e não são poucas. A Globovision é a segunda de maior audiência e é tão de oposição quanto a RCTV – o que não é pouco. A brecha é boa para discutir também responsabilidade social de concessões públicas. Enfim, já ficou longo demais o post – o caso é que quando se trata de Venezuela, toda informação precisa ser precisa, sob pena de causar mais desinformação. grande abs
23/03/2008 at 05:55
Recomendo a todos que leram este post que assistam o documentário “A Revolução Não Será Televisionada” que está disponível gratuitamente no YouTube:
Documentário “A Revolução Não Será Televisionada” no Youtube
(este é um link para a primeira parte, as outras se encontram ao lado, o documentário é IRLANDÊS mas está com legendas em português para as partes em inglês e as falas em espanhol.)
Ao assistir o documentário, que mostra claramente as manipulações feitas pela RCTV no Golpe Militar que removeu o governo democraticamente eleito do poder durante um dia, inclusive cortando o sinal de transmissão ao canal televisivo estatal, fica claro o porquê da não renovação da RCTV, bem como o porquê de tanta propaganda contra o governo que segura o 3o maior recurso petrolífero do mundo.
Não sou chavista nem defendo o governo chavez, que acho que tem falta de jogo de cintura e um enorme problema de comunicação; mas as manipulações da mídia nacional venezuelana e internacional (Grupos Globo e Abril inclusos) foram “longe demais” naquele momento, inclusive não transmitindo tudo que acontecia quando o presidente foi trazido de volta ao poder (enquanto Carmona fugia pra Miami).
Não se trata de ser “contra” ou “a favor” do governo Chavez, mas sim da soberania nacional sobre os interesses extrangeiros e, principalmente, do processo DEMOCRÁTICO, que se fragiliza a cada vez que um golpe ocorre, não apenas lá, mas em toda a América Latina.
Sendo a renovação de concessão das redes de TV na Venezuela – assim como no Brasil – renováveis apenas pelo governo, a não-renovação é um aspecto totalmente constitucional lá, assim como seria aqui.
O documentário aborda o assunto durante 75 minutos, inclusive com cenas de dentro do palácio antes, durante, e depois do golpe. O grupo que o fez tinha ido fazer um documentário sobre o governo na Venezuela, e acabou sendo “pego de surpresa” durante o golpe, e tendo a sorte de filmá-lo de dentro do palácio, com chances de serem bombardeados.
As imagens são reveladoras, e demonstram não só a manipulação de mídia lá, mas como ela ocorre – dentro deste próprio assunto – de forma tão caricata em toda a América Latina, uma vez que as pessoas pensam e ‘despensam’ baseadas em não muito mais que estes meios de comunicação, que passam, portanto, a influenciar a realidade.
Fica a dica, toda fonte jornalística é sempre indireta, e deve ter seus comprometimentos com interesses externos checado.