Difícil encontrar jornalista que não esteja em, pelo menos, uma rede social. Com a necessária aptidão para comunicação que a profissão exige, esses trabalhadores encontram nas redes uma forma de expressão, uma ferramenta de apuração e um meio de se atualizar do debate público. 

Mas como essa exposição e interação direta com seguidores pode interferir na intenção de consumo dos leitores e nas suas percepções sobre a objetividade jornalística?

É o que Jayeon Lee buscou responder em artigo publicado na Journalism Studies. Como método, 267 estudantes universitários de aulas de comunicação não-jornalística dos Estados Unidos viram capturas de telas de um perfil fictício de um(a) jornalista, que teve nome e foto preservados. 

Nas capturas, que simulavam postagens no Facebook (sim, não foi no Twitter, como pode surgir o título deste post), era possível ver diferentes notícias compartilhadas pelo(a) jornalista ficcional. Em alguns dos prints, os compartilhamentos eram acompanhados de comentários pessoais do(a) profissional, permitindo aos participantes conhecer aspectos da sua personalidade. 

Os resultados mostraram que:

  • Interação e publicação de postagens que revelem a personalidade de um(a) jornalista em uma rede social aumentam a probabilidade do público consumir as notícias produzidas por ele(a). 
  • Esse mesmo comportamento (de interação e publicação) enfraquece as percepções do público sobre a objetividade do(a) jornalista. Quanto mais a pessoa revelar sobre si mesma, menos será vista como objetiva.

Nos resultados — que devem ser relativizados tendo em vista as limitações do estudo, a exemplo da restrição do perfil de participantes —, Lee fala que os jovens optaram por seguir e consumir produções de um(a) jornalista aparentemente menos objetivo(a), mas que interagia e expunha sua personalidade nas redes. 

Para as empresas de comunicação e para jornalistas, a questão é complexa e cada vez mais urgente. Como balancear essa possível criação de uma comunidade de leitores com a perda da percepção de objetividade?

No relatório encomendado pelo Washington Post para analisar sua política de mídia social, vazado em junho deste ano, descobriu-se que os profissionais do jornal tinham “o desejo quase universal de uma política que seja mais clara e específica sobre as responsabilidades e limitações dos funcionários no uso da mídia social, bem como as obrigações da administração com a segurança dos funcionários e a aplicação equitativa das regras” .

Segundo os depoimentos colhidos, o jornal não deu nenhum apoio aos repórteres que já tinham sido alvo de ataque público nas redes. No caso das mulheres e das pessoas não-brancas, para além do desamparo empresarial, a ampla exposição de suas identidades pode ser particularmente inseguro.

“Como não sou mais tão ativa no Twitter, não tenho tanto espaço na TV. […] Do ponto de vista da carreira, você fica pesando os prós e os contras”, relata uma das pessoas entrevistadas no relatório do Washington Post.