As Olimpíadas terminam no domingo, dia 21, quando completam-se 19 dias de competição em 42 modalidades esportivas, disputadas em 306 provas que ocupam 32 arenas no Rio de Janeiro e 5 estádios em outras cidades do país. Comum a todos os grandes eventos, a primeira edição sul-americana dos jogos teve cobertura ostensiva da imprensa, nos cadernos e produtos especializados em esportes, do jornalismo diário e em questões que vão além dos esportes, como cultura e economia. Três características são marcantes: o Brasil na vitrine (com sua torcida e decisões políticas discutidas abertamente), grandes projetos de visualização de dados que ajudam a ver, por exemplo, o sexismo nos esportes, e a transmissão ao vivo de todas as competições.

Tudo o tempo todo 
As transmissões de televisão dos Jogos Olímpicos são centralizadas pela Olympic Broadcast Services (OBS), empresa criada em 2011 pelo Comitê Olímpico Internacional que oferece às retransmissoras imagens ao vivo de todas as competições. E pela primeira vez um canal brasileiro ofereceu à seus assinantes a experiência de ver todas as competições, movimento possível pela digitalização dos sinais de TV e do aumento do acesso à TV por assinatura.

SportTV disponibilizou 16 canais, incluindo temporariamente as 12 faixas ocupadas pelo pacote Premiere – que transmite campeonatos de futebol – a todos os assinantes. A equipe conta com 35 narradores e 110 comentaristas, muitos deles ex-atletas, como a romena Nádia Comaneci. Assinantes também também tem acesso ao conteúdo através do aplicativo SportTV Rio 2016, não assinantes podem assistir 30 minutos por dia, ler notícias e ver melhores momentos. Além das competições ao vivo, os canais transmitem reprises e melhores momentos.

Por um lado, os públicos podem efetivamente escolher quais competições assistir e registrar seus gostos, dando audiência à esportes menos conhecidos, como foi o caso levantamento de peso. Por outro, manter 16 canais simultâneos implica procurar informação quando nada está acontecendo, como já discutiu Bruno Henrique de Moura no Observatório da Imprensa.

Gráfico produzido por Gênero e Número > http://www.generonumero.media/atletas-na-tv/

Rankings, recordes e problemas ilustrados
Resultados de competições, índices de desempenho e expectativas de pontuação são alguns dos números que acompanham a cobertura do esportes olímpicos. Para facilitar o entendimento do público que não está familiarizado com os esportes e apresentar perspectivas diferentes sobre o assunto do qual todos os veículos estão tratando, as visualizações de dados aparecem como alternativa para criar narrativas mais complexas, principalmente depois que o Comitê Olímpico baniu o uso de gifs. 

The Washigton Post criou um infográfico interativo que permite comparar o tamanho de bolas, quadras e distâncias percorridas pelos atletas. Nexo produziu diversos vídeos e infográficos reunindo curiosidades, explicando o funcionamento da escolha dos esportes que fazem parte da competição, visualizando séries históricas de recordes. Entre eles, o desempenho do Brasil nas Olimpíadas ao longo do tempo.

The New York Times produziu uma série de especiais para mostrar como alguns atletas conseguem desempenhos tão superiores a seus oponentes. Entre eles, um vídeo que mostra como Simone Biles está se tornando a primeira Simone Biles. A frase ficou conhecida quando a ginasta americana negou as comparações, que diziam que ela seria a próxima Michael Phelps ou Usain Bolt, dizendo que ela era a primeira Simone Biles.

Questões de gênero começaram a ganhar força quando a modelo Lea T entrou à frente da delegação brasileira, sendo a primeira transexual a ter destaque em uma cerimônia de abertura. Depois, a CNN estabeleceu o recorde: a Olimpíada tem 51 atletas assumidamente LGBT, entre eles a brasileira Rafaela Silva, medalha de ouro no judô, e o nadador inglês Tom Daley.

Apostando no jornalismo de dados e discutindo questões de gênero, Gênero e Número iniciou suas publicações no dia 10 de agosto. O editorial destaca que “padrões e assimetrias de gênero ainda tão arraigados nas quadras, piscinas, pistas e bastidores do esporte” são o tema da estreia.

Foto de Adenilson Nunes / AGECOM durante jogo de Brasil e Chile em Salvador (2009)

Os bons selvagens 
Depois das discussões sobre a qualidade da água na Baía de Guanabara, a epidemia do vírus zika e a violência urbana, as Olimpíadas estavam prontas para começar. E jeitinho brasileiro começou a aparecer no noticiário quando a delegação da Austrália se recusou a ficar na Vila Olímpica que ainda precisava de reparos. Na ocasião, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse que faria os reparos e colocaria até um canguru para recepcionar os atletas e recebeu como resposta que a delegação preferia encanadores. A situação foi resolvida, mas os conflitos entre as expectativas e os brasileiros continuaram.

Na abertura, imprensa internacional destacou a quebra do protocolo que não anunciou o presidente em exercício Michel Temer durante a cerimônia. Mesmo sem o anúncio, ele fez uma pequena fala e foi vaiado. A situação política do país continuou a ser notícia internacionalmente depois das diversas manifestações com cartazes exibindo “Fora Temer” durante os jogos. A Força Nacional passou retirar os manifestantes das arenas sob a alegação de que eles estavam infringindo as regras do evento, que não permite propaganda política.

A torcida passou então a ser o foco da atenção. Brasileiros mostraram seu apoio e emocionaram o tenista sérvio, Novak Djokovic, que jogava contra o argentino Juan Martin Del Potro. Qualquer adversário da argentina passou a receber o mesmo tratamento. Do mesmo modo, Hope Solo, goleira da seleção americana de futebol foi alvo de gritos “ô, zika”, depois de demonstrar sua preocupação com o vírus. O caso mais emblemático foi o do francês Renaud Lavillenie, que competia com Tiago Braz pela medalha de ouro no salto com vara. Depois de ser vaiado e ficar com a medalha de prata, o atleta francês disse que se sentia ofendido. No dia seguinte, durante a entrega das medalhas, ele foi vaiado no pódio, o que fez o presidente do Comitê Olímpico Internacional manifestar sua indignação com a torcida.

Nexo reuniu algumas das opiniões a respeito da torcida.

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+ Veja a lista do Nieman Lab que reúne experiências em mídia digital criadas para as Olimpíadas.
+ The Big Picture do Boston Globe selecionou fotos dos medalhistas de ouro.