Após dez meses de reportagem, envolvendo cerca de 15 jornalistas, a Folha de S.Paulo lançou neste mês de dezembro a série digital Tudo Sobre. Seguindo o esmagador sucesso de Snowfall, do New York Times, de 2012, a reportagem da Folha exibe por meio de gráficos dinâmicos, vídeos e fotos as diversas facetas da construção da polêmica usina de Belo Monte.

Segundo o próprio site, a reportagem multimídia está dividia em cinco capítulos, com 55 fotografias, 24 vídeos e 18 gráficos. Na redação, o trabalho envolveu também os designers da casa para a montagem da página especial, tais como os editores de arte Fábio Marra e Mario Kanno, bem como editores de vídeo da TV Folha.

Dias depois, o G1 lançou um especial semelhante, em formato de série, fazendo o caminho pelo interior do Nordeste e Norte brasileiro, inspirado no filme ‘Bye Bye Brasil’, também por meio de vídeos e gráficos. As duas reportagens mostram de que forma o jornalismo brasileiro também pretende mergulhar na snowfallização, este termo agora utilizado para designar este tipo de reportagem, verticalizada e multimídia, que lembra a linguagem dos aplicativos para tablets.

Especial Bye Bye Brasil, em formato de série, no G1

Especial Bye Bye Brasil, em formato de série, no G1

São trabalhos volumosos em termo de informação, o que de certa forma, gerou críticas sobre o quanto poderia gerar de dados supérfluos e que na verdade poderiam estar ali muito mais para atrair o leitor ao invés de torná-lo informado sobre o tema em questão. Com bem pontua Alberto Cairo, não é fácil criar este tipo de trabalho, apesar de houver ferramentas disponíveis para facilitar esse processo.

O cuidado que se requer na distribuição dos elementos multimídia e de texto deve ser tomado principalmente no instante do planejamento. É tentador tanto para o jornalista quanto para o designer lotar as páginas de animações e vídeos ao invés de concentrar no que precisa explicar para seus leitores na forma mais eficaz.

Creio que tanto o Snowfall, ganhador do Pulitzer, quando os dois exemplos que temos mais recentemente, conseguem informar ao evitar o exagero da ferramenta. Os gráficos inseridos conseguem auxiliar no entendimento da história. Muitas vezes, até de forma mais direta e rápida do que na leitura de um texto mais longo.

Isso remete muito aos projetos desenvolvidos pelo escritório do designer Mario García, no qual se acredita que uma notícia pode ser entendida tanto em 5 ou em 50 minutos, a depender do tempo disponível para leitura. Cabe ao leitor escolher a profundidade no qual está disposto mergulhar sobre o tema. Daí o investimento em gráficos que resumam a informação.

Estamos mesmo diante do futuro para o jornalismo? Creio que seja um futuro bem presente, no qual os portais de notícias e periódicos buscarão investir mais neste tipo de reportagem, no tempo em que o visual não é mais tratado como um elemento acessório, algo que ficou para o passado.