A possibilidade da tela sensível ao toque existe desde a década de 1960. A ideia foi introduzida, mais precisamente, a partir de um artigo de E. A. Johnson, publicado em 1965, na revista Eletronic Letters. O autor batizara o sistema de display touch, no qual fios de cobre moldados ao tubo de raios catódicos proporcionava uma interação mais eficiente entre homem e máquina (JOHNSON, 1965, p. 219).

A intenção inicial era desenvolver uma tela de forma a auxiliar o trabalho de navegação aérea por parte de controladores. O que não se imaginara talvez era o quanto a tecnologia iria se desenvolver até os dias de hoje, com a introdução de diversas mesas tácteis portáteis e sob várias utilizações e intenções. Até de atrair também o mercado do jornalismo.

Roger Fidler já sabia disso nos anos 1990, quando produziu um vídeo intitulado “The Tablet Newspaper: A Vision for the Future”, que mais recentemente se tornou um viral. Na época, foi diretor de novas mídias do Knight-Ridder Inc. O que há neste vídeo, produzido em 1994, na mais é o que temos atualmente em tablets como o iPad, com a diferença que não mais utilizamos a caneta stylus para realizar a manipulação dos elementos, a não ser nosso próprio tato.

Com o iPad e os demais tablets que passaram a invadir o mercado consumidor de tecnologia a partir de 2010, os jornais passaram a adequar também produtos para estes gadgets. E, de certa forma, a se propor um desafio de criar um novo produto e experimentar formas de navegação e leitura que não se conhecia até então.

O artigo de Palacios e Cunha (2012, 668-685) tenta traçar uma primeira reflexões a partir deste fenômeno, ao qual foi denominado de tactilidade. Não se trata de uma palavra nova, se pensarmos em outras áreas envolvidas como a psicologia, a arquitetura de informação e até mesmo o campo das artes plásticas. Porém, o envolvimento do fenômeno dentro do jornalismo digital, de forma a reconfigurar também as demais características fundamentais (hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização, atualização contínua e memória), ainda não havia chamado atenção para nosso campo de pesquisa.

Muito mais do que detectar movimentos como arrastar, clicar, girar ou pressionar, a reflexão deve atingir também na maneira isso afeta a leitura de notícias. E também de escrita. Se em tempos remotos, na época das folhas epistolares e volantes e do neue zeitung, a circulação de notícias ocorria na forma de panfletos que mais se pareciam com livros; até passar pelo aumento no tamanho das folhas, das colunas, da quantidade de elementos, até chegar nos jornais e revistas impressos que conhecemos hoje; como tratar de um único dispositivo que pode não só ser qualquer tipo de publicação como também adotar elementos multimídia como numa estação de TV ou rádio?

Enfim, que produto é este ao qual estamos encarando? Esta multiplicidade de elementos em meio a página tem piorado ou melhorado a leitura e o entendimento da informação? A utilização de gestos e sensores não são mecanismos de distração para o leitor? Este mesmo pode deixar sua avaliação junto aos comentários nas lojas de aplicativo e a lei do mercado age também sobre estes produtos, que podem se ajustar ou simplesmente morrer, como ocorreu com o The Daily. São algumas reflexões que preparam o roteiro dos próximos capítulos.

Referências
JOHNSON, E. Touch display: a novel input/output device for computers. Eletronic Letters, Stevenage, v.1, n. 8, pp. 219-220, out. 1965.

PALACIOS, M.; CUNHA, R. A tactilidade em dispositivos móveis: primeiras reflexões e ensaio de tipologias. Contemporanea, Salvador, v. 10, n. 3, pp. 668-685, set./dez. 2012.