Em dois dias de congresso, especialistas da área discutiram e analisaram o desenvolvimento do ciberjornalismo e apresentaram tendências sob o tema geral “Jornalismo 3G“. As apresentações abordaram questões sobre formação dos jornalistas, sobre o mercado, sobre o trabalho em um meio que demanda conhecimentos mais variados de formatos, estruturas narrativas, tecnologia, buscando uma linguagem própria diferenciada dos meios tradicionais, mas nem por isso excludente, e sim, complementar.
A palestra inicial do congresso, “¿Uno para todos y todos para uno? Los medios de comunicación ante la convergencia digital” (Parte IParte II Parte III Parte IV), proferida pelo Professor Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra, Espanha, apresentado pelo Professor Javier Díaz Noci, da Universidade Pompeu Fabra, Barcelona, e País Vasco, ofereceu um panorama do estudo da convergência nos cibermeios, bem como aspectos relacionados ao desenvolvimento de redações convergentes e integradas. Convergência não é sinônimo de integração, é um processo multidimensional que inclui a integração como um de seus eventuais resultados. Dado este contexto, Salaverría afirmou que em um processo de convergência pode ou não haver integração, e que este contempla 4 áreas: Conteúdos , Profissionais , Empresas e Tecnologias .
O primeiro Painel reuniu expositores em torno do tema “Desafios da Convergência”. Apresentações curtas deram oportunidade a pesquisadores em diferentes estágios de reflexão de exporem suas investigações e impressões sobre experiências de mercado e sobre o processo de convergência no jornalismo.
A conferência do Professor da Universidade do Porto, Helder Bastos, “Ciberjornalistas em Portugal”, fruto de sua tese de doutorado, proporcionou uma visão do perfil do jornalista português, bem como do mercado jornalístico em Portugal, baseada em uma pesquisa com 67 jornalistas dos 95 que desempenham oficialmente a função no país. Os resultados mostram um panorama de estagnação tanto da produção ciberjornalística como da postura dos profissionais em relação às potencialidades do meio digital. Esta conferência foi moderada por Ricardo Jorge Pinto, professor da Universidade Fernando Pessoa.
Beth Saad, Professora da Universidade de São Paulo, apresentada pelo Professor da Universidade do Porto, José Azevedo, proferiu a conferência “Ciberjornalismo 2.0: o impacto das ferramentas de mídia social“, levando sua visão sobre a web como uma plataforma social e global, fonte geradora de competências, subaproveitada pelas empresas informativas. Para Beth, também o ensino superior precisa passar por reformas que proporcionem ao profissional da comunicação uma formação que envolva jornalismo, publicidade e produção audiovisual, para que este profissional possa ter uma visão do negócio em todos os níveis – empresa e produto – bem como ter mais clareza sobre quem é o usuário, além da imprescindível necessidade de dominar novas ferramentas (blogs, Twitter etc…).
O Painel 2 – “Ciberjornalismos” – apresentou experiência acadêmica em ciberjornalismo no Brasil, e de mercado, em Portugal e na Espanha. As investigações mostram que em maior ou menor nível, os cibermeios tentam aproximar-se das iniciativas de ponta no mercado e buscam explorar as potencialidades do meio, mesmo que ainda não tenham conseguido totalmente. No que diz respeito à Academia, no Brasil, a formação de profissionais da comunicação já inclui como habilidades necessárias a um jornalista o manejo de ferramentas de edição de áudio e vídeo, de equipamentos, e possuir um controle maior de uma informação com estrutura fragmentada, multilinear. A preocupação com usuários de perfis variados permite uma maior conscientização por parte do profissional a respeito de como escrever, onde e o que disponibilizar.
O último Painel do dia, “Jornalismo Participativo e do Cidadão”, reuniu expositores com diferentes visões desta prática. Enquanto alguns ainda consideram a formação esencial para o exercício da profissão (assim como os médicos, advogados ou engenheiros) e pregam que o que fazem os usuários em seus blogs ou participando de cibermeios é outra coisa que não jornalismo, outros defendem o jornalismo cidadão como uma modalidade inevitável de jornalismo em face às transformações do campo com o surgimento da internet.
Na conferencia de encerramento do primeiro dia de trabalhos, João Canavilhas, Professor da Universidade Beira Interior, Portugal, apresentou proposta do que chama “Gramática Multimídia“. A conferência “Cinco W’s e um H para o jornalismo na web” (Parte IParte II Parte III Parte IV) defendeu uma linguagem própria do meio, que até agora, em sua maioria, apresenta adaptações de outras linguagens a um novo ambiente comunicacional. Esta conferência teve a moderação do Professor Manuel Pinto, da Universidade do Minho.
Ao final do dia, houve o lançamento do livro de Fernando Zamith, “Ciberjornalismo. As potencialidades da Internet nos sites noticiosos portugueses“. Resultado de sua dissertação de mestrado, o livro propõe-se a fazer um diagnóstico do jornalismo português na Internet, através do estudo da sua pouca adaptação às características do novo meio, complementando com as perspectivas de profissionais e acadêmicos.

Beatriz Ribas
Ana Serrano Tellería