Uma reportagem assinada por Reinaldo José Lopes, no G1, é um exemplo eloquente de como a “Atualidade”, elemento número um de qualquer ‘Critério de Noticiabilidade’, como sabe qualquer estudante de Comunicação, desde que entra em contato com o B-A-Bá da Teoria do Jornalismo, pode ser algo resvaladiço e manipulável, para se dizer o mínimo.
Uma chamada na Primeira Página (Home) do G1 leva o leitor para a “atualíssima” informação segundo a qual a Bíblia em seu primeiro Livro (Gênesis) conteria duas versões da criação do mundo. E pasmem: elas são contraditórias entre si!
O que de há de notável nisso? Simplesmente o fato de que – como aliás a matéria acaba por informar em um determinado momento – não há absolutamente nada de novo ou atual nessa informação, que é objeto de estudo de especialistas da Bíblia, há pelo menos 150 anos. Trata-se da conhecidíssima justaposição dos relatos Javistas (cerca de 950 ou 900 a.C.) e Ehoistas (cerca 850 a 750 a.C.) sobre a Criação, o Dilúvio e outras lendas mesopotâmicas, que (re)produzidos por autores (ou antes “coletores”) diferentes, em momentos diferentes e em diferentes regiões da Palestina, acabaram eventualmente “colados” em um mesmo Livro (Gênesis), operando a “contradição”.
E de novo? Há algo atual nessa história para justificar sua inclusão – com chamada – em um site jornalístico? Descobriram algo novo sobre o assunto? Alguém importante disse algo importante sobre a conhecida contradição? Não, nada de novo… São questões de interpretação bíblica que ocupam os especialistas e são objetos de centenas de artigos eruditos, desde o século XIX. Pelo menos…
Bem, só se o “novo” for a explicação infográfica da “contradição”…
Deleitem-se com ela.

marcos palacios