Apesar da longa postagem de ontem sobre o livro The Cult of the Amateur, de Andrew Keen, não cheguei a dizer tudo que gostaria. Keen afirma que “não é contra a tecnologia”, nem “contra o progresso” e que as tecnologias digitais são “uma coisa maravilhosa”. Faz isso em suas conclusões, como que para aliviar um pouco a clara impressão contrária deixada ao longo dos sete capítulos do livro.
A sua indisposição – planejada, é óbvio, pois senão seu livro não teria impacto – de discutir, ao longo do livro, a verdade gritante de que estamos em um momento de transição tecnológica e que, consequentemente, novos modelos de negócios e de consumo têm que ser inventados para todas as áreas ligadas à indústria da informação e do entretenimento, fez-me imaginar um diálogo:

Local: Veneza
Tempo: circa 1450
Personagens: Píncipe e Cardeal

Príncipe: Vossa Reverendíssima tem notícias da diabólica invenção alemã?
Cardeal: Uma nova máquina de guerra?
Príncipe: Pior, Reverendíssima, pior… Uma máquina que permite que qualquer um produza livros?
Cardeal: Qualquer um? Como assim?
Príncipe: Qualquer um que deseje fazê-lo e possa adquirir uma dessas maquinetas, que certamente vão acabar se popularizando e sendo vendidas em qualquer feira ou mercado, por uns quantos ducados…
Cardeal: Mas, isso me parece perigosíssimo.Vai desempregar milhares de copistas em nossos mosteiros…
Príncipe: Pior, Reverendíssima, pior… A máquina permite a produção de um número ilimitado de cópias. Livros poderão ser impressos aos milhares e vendidos quase a preços de um pato ou presunto defumado. Talvez até distribuídos gratuitamente por agitadores e subversivos!
Cardeal: Só de pensar nisso volta-me a exaqueca. Temos que agir rápido, Honrado Prícipe, ou qualquer amador vai poder produzir livros!
Príncipe: Pior, Reverendíssima, pior… Pelo andar da carruagem, logo estarão produzindo livros até sem o Imprimatur da Santa Sé…

Pano Rápido

marcos palacios