Um programa da RTP 1 (emissora de TV estatal portuguesa) acendeu uma polêmica em Portugal quando, ao deixar as pessoas decidirem por telefone quem são os maiores portugueses de todos os tempos, o público colocou o nome do ditador Antônio de Oliveira Salazar – que governou o país entre 1932 e 1968 – na fase final, entre os dez mais votados. Até março, será decidida a ordem dos dez maiores portugueses.

Além de Salazar, entre os nomes estão o fundador de Portugal, D. Afonso Henriques, o ex-dirigente comunista Álvaro Cunhal, os poetas Camões e Fernando Pessoa, os navegadores Vasco da Gama e o Infante Dom Henrique, o estadista Marquês de Pombal, o rei D. João II e o diplomata Aristides de Souza Mendes. Para os brasileiros, uma surpresa: Pedro Álvares Cabral não faz parte dos mais votados, ficando em 49º lugar. O nome de Álvaro Cunhal também está sendo objeto de polêmica, uma vez que críticos consideram a sua inclusão entre os dez como uma manifestação de “saudosismo stalinista”.

Francisco Rui Cádima, professor de Ciências da Comunicação, na Universidade Nova de Lisboa, questiona as obrigações do serviço público de televisão por causa do programa ‘Os Grandes Portugueses’, da RTP 1:
“Quando um ditador é responsável por assassinatos políticos, por perseguições, pela censura, pela falta de liberdade de expressão, não vejo como pode ser considerado calma e tranquilamente como um grande português.”
Cádima, que já foi director do Obercom (Observatório da Comunicação), acusa o canal estatal de entrar pelo caminho da “banalização”, porquanto, explica, permite que “um ditador responsável por assassinatos políticos passe por um grande português”, o que, refere a concluir, “numa televisão pública deve fazer pensar”.
Via BBC e Estadão

marcos palacios