Se a grande mídia é o Golias e os bloggers e jornalistas cidadãos são os Davids, onde ficam os jornais locais nesse confronto? É esta a pergunta colocada por Conor Friedersdorf, numa postagem para o Blue Plate, na qual ele analisa alguns exemplos de relação entre Blog e Pequena Média (entendida por ele como veículos de circulação local, com tiragem abaixo dos 100 mil exemplares). Nos Estados Unidos existem cerca de 1300 diários nessa categoria e milhares de semanários que também se enquadram entre os “locais”.
O questionamento de Friedersdorf vem a propósito de um livro recente de Glenn Reynolds, professor de Direito e autor de um dos mais populares Blogs dos Estados Unidos, o Instapundit. Reynolds argumenta que a explosão de ciber-expressão está levando a uma situação semelhante à que ocorreu com a Igreja Católica durante a Reforma Protestante: um crescente poder do indivíduo, o direito de qualquer cidadão interpretar a Palavra e, é claro, uma crescente divisão em pequenas seitas. A tese geral do livro é que as novas tecnologias estão empoderando os indivíduos, como nunca antes, com impactos em todas as áreas, mas muito especialmente na área midiática. “Um estudante em seu dormitório numa universidade pode hoje dispor em seu computador de recursos de edição de som e imagem que, há não muito tempo atrás, eram privilégios de estúdios multimilionários”, assinala um dos comentadores do livro. Uma batalha entre os gigantes e os nanicos está em curso e os nanicos ganham cada vez mais terreno.
Sem entrar no mérito das teses defendidas no livro de Glenn Reynolds, Fridersdorf parte da idéia do confronto entre grande e minúsculos para olhar a questão por um outro ângulo: a relação possível entre os Davids impressos e os Blogs. Seu levantamento da situação norte-americana, “preliminar e incompleto”, como ele mesmo o caracteriza, aponta para um crescente uso dos Blogs pelos veículos de pequeno porte e para a emergência de várias formas de simbiose. O risco de que o blogging poderia levar a uma diminuinição do número de leitores e, eventualmente, à morte dos jornais locais não parece confirmado pela observação de Friedersdorf. Um ponto de partida estimulante para levantamentos similares em outras realidades culturais e para reflexões sobre o tema.

marcos palacios