Apontada como promessa para o futuro do jornalismo, por muitas previsões (ver aqui, aqui e aqui), desde os anos 1990, a realidade virtual enfrenta uma dura realidade no final de uma década em que tanto se falou sobre este conceito. O formato ainda não decolou como se esperava, pelo contrário, passa por um momento de interrupção da sua expansão que nos obriga a reprogramar nossas expectativas.

Um sinal disto veio com algumas decisões de companhias de tecnologia sobre o desenvolvimento de hardwares e softwares de RV. Havia uma previsão de que a Apple – que revolucionou o mercado de comunicação móvel com o lançamento do iPhone em 2007 – lançaria um produto para realidade virtual e aumentada em 2020. Mas, o projeto ficou para 2022 ou 2023 por conta de obstáculos que a companhia acredita precisar superar para oferecer um produto de qualidade.

Segundo eles, experiências em RV mais convincentes envolvem a ligação do óculos com um computador ou smartphone. O diferencial traçado pela companhia era o de que seria preciso criar um dispositivo robusto o suficiente para processar gráficos em RV e sem a ligação com outro aparelho, assim como o Apple Watch. Além disto, falta encontrar uma solução para que a bateria seja a menor possível e tenha durabilidade.

Outro problema vem com o próprio óculos inteligente. Já tivemos experimentos com o Google Glass que não conseguiu superar diversas questões ligadas à privacidade e o desconforto. O desafio é bem grande: estamos falando em colocar um dispositivo tecnológico no meio do rosto de uma pessoa!

Além disso, temos o desapontamento do Facebook com a demora em obter retorno dos seus US$ 2 bilhões investidos na RV e o anúncio do Google de descontinuar – eufemismo para encerrar – o DayDream VR, plataforma de RV.

A lista de obstáculos ainda segue com questões de ordens diretamente econômicas. Os dispositivos continuam caros – muitas vezes com preços maiores do que os smartphones. Ver aqui e aqui

A difusão também é lenta porque os conteúdos produzidos são restritos. A indústria de games é uma das que mais tem aproveitado a tecnologia. Mas, no jornalismo, setor que sofre para conseguir se sustentar, investimentos em produções em RV foram limitados até aqui a grandes organizações, como The Guardian, The New York Times, BBC, EL Pais, entre outras.

Alguns meios nacionais ficaram apenas na modalidade dos vídeos 360°, que demanda menos recursos humanos e softwares para edição. Contudo, ainda assim, a produção não tem uma periodicidade ou frequência.

Será preciso que a realidade virtual reverta esta dura realidade encontrando soluções para voltar ao seu processo de difusão e ganhar em escala. Somente assim, a indústria jornalística terá condições mínimas de explorar de modo mais eficiente seus recursos e criar novos produtos.

* Baseado no texto de Jean-Louis Gassée que pode ser lido aqui