Novos contornos da terceirização da circulação das notícias no ambiente digital estão previstos para o mês de março de 2019. A Apple deu pistas de que lançará o Apple News, uma plataforma para venda de produtos jornalísticos que funcionaria junto com a conta do iTunes e que pode ter uma assinatura mensal de $10 para que o usuário possa ter acesso aos meios cadastrados. O problema para as empresas jornalísticas é que o acordo prevê que 50% das assinaturas ficará com a Apple.

Não é novidade que as empresas jornalísticas perderam o controle de parte dos seus modelos de negócios e acabaram nas mãos de grandes conglomerados de tecnologia, como Google, Facebook ou Twitter. Ao caracterizar o jornalismo pós-industrial em 2014 Caio Túlio Costa já falava disso. Sem investimentos em tecnologias, ao jornalismo cabe apenas reportar números astronômicos do faturamento destes conglomerados, que chegam a dezenas de bilhões de dólares por ano, parte deles conquistados direta ou indiretamente a partir de conteúdos noticioso.

Para se ter uma ideia, somente no terceiro trimestre de 2018 o faturamento do Facebook alcançou a marca dos US$ 13,73 bilhões. O The New York Times, maior marca jornalística do mundo, comemorou o faturamento de US$ 709 milhões com produtos digitais, incluindo assinaturas e publicidade.

Obviamente, não se quer aqui comparar empresas com finalidades tão diferentes umas das outras. O jornalismo tem funções e responsabilidades muito grandes na esfera pública. Já as gigantes de tecnologia como Google, Facebook, Twitter, entre outras, embora também sejam empresas de mídia e devessem arcar com estas responsabilidades, direcionam seus esforços para o desenvolvimento de novas tecnologias e exploram conteúdos produzidos pela imprensa e pela base de usuários.

Quando a Apple decidiu lançar uma plataforma para assinatura de jornais e revistas e determinou que ficará com 50% da receita, parte da indústria jornalística reclamou, mas só grandes meios como o Washington Post, The New York Times e Wall Street Journal não fecharam acordo (até o dia 15.02.2019. Por outro lado, “muitas” publicações já embarcaram.

A preocupação dos meios vai além da divisão com de metade do valor arrecado das assinaturas com a Apple, que não produz conteúdos. As empresas jornalísticas reclamam também dos dados dos assinantes que formam um conjunto de informações úteis para as organizações jornalísticas para formulação de estratégias de mercado e para oferecer produtos e serviços que ficarão com Apple.

Agora é acompanhar para ver se a negociação entre Apple e os meios jornalísticos sofre alguma modificação.