Há cerca de um ano, com a liberação do Youtube (marco de 2015) e do Facebook (setembro de 2015) para a exibição de vídeos 360°, vimos uma verdadeira corrida dos veículos de comunicação na compra de equipamentos e produção de conteúdos explorando o recurso. Sites, emissoras de TV e de rádio anunciavam com bastante frequência e empolgação a produção de conteúdos informativos neste formato. De fato, as empresas jornalísticas apostaram nos vídeos 360°, mas nos últimos meses, poucas contribuições foram notadas para o formato.

A tecnologia não era tão nova. A possibilidade de captura e circulação de imagens em 360° já tinha sido feita pelos veículos em outros momentos, como a BBC. No entanto, a empolgação das empresas jornalísticas, sobretudo entre o final de 2015 e início de 2016, estava relacionada ao barateamento dos equipamentos de captura, edição e interação com este conteúdo (pelos smartphones e óculos), bem como a facilitação no acesso e circulação destes vídeos nas mídias sociais.

A consultoria Gartner criou um esquema para analisar trajetórias de inovações no decorrer de um intervalo tempo, é a Curva de Gartner. Explorando dois momentos da Curva, de modo bem simplório, poderíamos dizer que saímos de uma etapa de “expectativas infladas” e paramos no “abismo da desilusão”, quanto ao uso dos vídeos 360° no jornalismo.

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As expectativas infladas se referem a um momento em que as empresas investem em uma tecnologia, fazem usos experimentais e buscam desenvolver uma estabilidade em seu formato. O boom dos vídeos 360° no final do ano passado estaria localizado nesta etapa. As experimentações eram tão simples, que facilmente podiam ser comparadas com produções como o primeiro filme do cinema-mudo, “A Chegada do Trem na Estação”. Uma câmera fixa registrando o ambiente em um momento em que ainda não havia uma linguagem cinematográfica.

 

A partir da origem do cinema-mudo, em poucos anos, uma linguagem cinematográfica foi sendo formada. Os cineastas criaram novas técnicas, exploraram novas tecnologias e acumularam conhecimentos. Gêneros surgiram e uma verdadeira indústria do cinema foi formada.

Este é um processo que se esperava dos vídeos 360°. Na medida em que as empresas jornalísticas investissem em mais experimentações, chegaríamos em um formato estabelecido e suscetível a mais inovações. Contudo, não é isto que vem acontecendo. O momento é de arrefecimento por parte dos veículos, com algumas exceções, na experimentação de linguagens.

Neste “primeiro ano”, poderíamos citar poucas produções em 360° que foram além da câmera fixa e entenderam como explorar o recurso da vista panorâmica para contar história. O The New York Times, o El País e, mais recentemente a Vice usaram o vídeo 360° em reportagens em que fazia sentido olhar em volta, ter a sensação do ambiente e perceber as ações acontecendo em vários ângulos.

Na curva de Gartner, uma inovação não precisa seguir linearmente seu percurso ou passar por todas as etapas (Gatilho de inovação, Pico de Expectativas Infladas, Abismo da desilusão, Rampa da Consolidação e Planalto da produtividade). Isto quer dizer que a qualquer momento os vídeos 360° podem sair do abismo da desilusão e seguir para uma etapa mais próxima de uma estabilidade, com uma linguagem mais bem definida ou voltarem para experimentações. Portanto, resta-nos apenas esperar.