Lançado nos Estados Unidos em 15 de julho de 2006, o microblog Twitter talvez seja a melhor tradução da linguagem em tempos de internet, tendo logo se tornado tanto uma ferramenta de comunicação (para fins comerciais ou privados) quanto um espaço de produção literária. Neste segundo campo, ele tem, no entanto, uma tradição centenária.

No Brasil, o primeiro tuiteiro literário foi, sem dúvida, Machado de Assis, um escritor marcado por estruturas narrativas fragmentadas, em que a frase avulta com independência.Seu clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas, que circulou como folhetim em 1880, é composto por vários tipos de textos, como algumas máximas que traduzem de forma perfeita o Twitter literário. Escreve o sarcástico narrador no capítulo “Parênteses”: “Antes cair das nuvens que de um terceiro andar”.

A inteligência irônica do narrador se organiza em uma sentença lapidar. Temos aqui uma definição desse gênero, que exige uma construção poética e um olhar crítico. Machado sabia como poucos se valer desses recursos, tanto que esse seu romance se apropria de uma linguagem estilhaçada, com sistemáticas interrupções à narrativa, num ziguezague que lembra o que se tornaria depois o estilo do Twitter. Esse talvez seja o nosso primeiro romance – e o melhor – produzido dentro de uma estética do fragmento.

Para ter acesso ao texto completo, clique aqui.