Continuando na linha das considerações sobre a manipulação de imagens digitais, poderíamos imaginar que, em função mesmo do contrato de leitura que estabelece com seus usuários, a Publicidade estaria num extremo do continuum, sendo a manipulação digital das imagens quase que uma “regra” e um recurso “aceitável” para a expressividade daquele formato discursivo no mundo contemporâneo. O Jornalismo estaria numa posição intermediária nesse continuum, com uma pretensão normativa à “objetividade”, convivendo com manipulações “aceitáveis” (por exemplo o “enquadramento” e o “corte” da imagem capturada pelo fotógrafo) e “inaceitáveis” (como a mudança de cor, ou acréscimo de elementos à imagem). No outro extremo do continuum teríamos a Ciência, o discurso científico, com seu rigor, sua exatidão, objetividade fria e horror à polissemia e à manipulação. Certo? Uma imagem do Hubble, por exemplo, deve ser fiél, em seus mínimos detalhes, àquilo que o Telescópio realmente “viu” nos confins do Universo. Certo? Errado…

De fato, Ana Carmen Foschini em seu Blog Anacarmen.com traz um link para um instrutivo artigo sobre a criação, em Photoshop, do universo pirotécnico do Telescópio Hubble. Escrito por Ray Villard e Zoltan Levay, o texto se intitula Criando o Universo Technicolor do Telescópio Hubble e ensina, passo-a-passo, como as imagens originalmente produzidas pelo Hubble, – que são na verdade mosaicos de fotos em preto e branco, semelhantes a pouco românticas radiografias do pulmão,- são colorizadas no Photoshop, atribuindo-se diferentes nuances de cor a cada um dos comprimentos de ondas detectados pelo telescópio e livrememente trabalhando-se níveis de contrastes e profundidades, para se obter os efeitos desejados. Um nebulosa, que no telescópio aparece cinzenta e com apenas uma levíssima coloração, transforma-se em um mundo de cores e contrastes sutís. Uma galáxia distante torna-se um caracol de fogo, no seio do qual explodem supernovas em seu nascedouro. O resultado é magnífico, como todos sabemos, mas na verdade estamos longe da fria objetividade científica e frente a um híbrido entre Ciência e Arte, que só a digitalização da informação permite levar a tais extremos de perfeição e beleza. Os autores de tais façanhas de manipulação digital justificam seus métodos dizendo que as cores, assim como a Beleza, está nos olhos de quem vê. O importante, explicam eles, é usar as imagens para contar uma “história”, tornada possível por um aparelho científico.

Realmente fascinante…

marcos palacios