Um prato cheio (de exatas 115 páginas) está disponível para quem se diverte com previsões e futurologia. O Pew Internet & American Life Project (em colaboração com a Elon University) acaba de dispobilizar um estudo que pretende prever como se desenvolverão as tecnologias de rede e quais serão seus impactos até 2020. O projeto foi desenvolvido através de um survey com 742 respondentes, selecionados dentre líderes, analistas e ativistas da Internet.
As conclusões, no entanto, não vão muito além da imaginação de qualquer cidadão médio: as tecnologias de comunicação e informação continuarão crescendo e tendo difusão cada vez maior em todo o planeta; a privacidade será fortemente ameaçada, mas isso poderá ser contrabalançado por uma maior transparência social e institucional; o inglês continuará tendo um lugar importante como língua franca na rede, a despeito do crescimento de outros idiomas; os mundos virtuais exercerão atração crescente sobre as pessoas, sendo que algumas poderão optar por passar a maior parte de suas vidas neles; os humanos manterão o controle sobre a tecnologia, apesar do crescimento de agentes inteligentes e de uma grande robotização das atividades cotidianas; “refuseniks” emergirão, como um grupo que se negará a integrar-se na rede, dedicando-se a um ativismo anti-rede, que poderá chegar ao terrorismo.

Soa muito pobre para um conjunto de 742 especialistas e ativistas?

O problema parece estar muito mais na lógica de organização do survey, do que com os respondentes. Trata-se de um típico estudo de avaliação de “cenários futuros”, no melhor estilo norte-americano: sete possíveis “cenários” são apresentados aos entrevistados, que devem dizer se “concordam” (agree) ou “discordam” (disagree) e, se assim o desejarem, fazer observações do porquê de sua resposta. Se há óbvias limitações inerentes a esse tipo de técnica, neste caso em especial o resultado fica ainda mais comprometido, pela quase absoluta falta de imaginação de quem construiu os tais cenários, que mais parecem “cenários presentes”, apenas levemente exacerbados. Os resultados provavelmente não seriam muito diferentes, se o survey fosse aplicado a estudantes do ensino médio, numa escola norte-americana.

O exercício inscreve-se em um conhecido gênero acadêmico: Futurologia Tautológica.

O Relatório Final está disponível em pdf.

marcos palacios